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'Estão fazendo tudo o que não pode'

Por PSIQUIATRA , DIRETOR DO PROGRAMA DE , ORIENTAÇÃO , ATENDIMENTO A DEPENDENTES (PROAD) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO e PAULO (UNIFESP)
Atualização:

Análise: Dartiu Xavier da SilveiraEstou muito pessimista em relação ao resultado dessa operação. Estão fazendo tudo o que não se pode fazer. A história mostrou por diversas vezes que a adoção de medidas repressivas não dá certo. Pelo contrário, provoca os piores resultados. Se uma ação como essa ocorresse na Europa, por exemplo, renderia até processo contra o governo.Temos um exemplo clássico. Na década de 1960, os Estados Unidos resolveram iniciar a chamada guerra às drogas. Após 30 anos, o próprio governo americano chegou à conclusão de que jogou US$ 20 bilhões no ralo. Mas esse discurso de repressão policial vende voto e capta a simpatia da população menos familiarizada com as nuances do problema. Em nossa realidade, é ridículo pensar que uma pessoa não vai usar drogas porque a Polícia Militar está na cracolândia. Os usuários vão para as ruas vizinhas. O segundo equívoco é pensar que a droga é que causa a situação de miséria de quem a consome. É exatamente o contrário. O que leva as pessoas para o buraco é a ausência do Estado, que não oferece escola de qualidade, habitação digna nem chance de trabalho. A droga é consequência, não é causa. É por isso que o trabalho não deve ser reprimir, mas prevenir. E, claro, trabalhar para devolver dignidade às pessoas.Mesmo que fosse planejada, essa ação repressiva não daria certo, assim como a internação compulsória não resolve. Estudos mostram que a taxa de recaída chega a 98% entre os internados à força. O máximo que essa operação pode promover é pulverizar a cracolândia e higienizar a área.

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