Esquema ''caça-níquel'' unia PMs e civis

Corregedores da Operação Apolo detiveram quatro policiais e apreenderam R$ 18 mil e 600 máquinas na zona oeste da capital paulista

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Por Marcelo Godoy
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A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo descobriu o que passou a chamar de "ciclo completo da propina". Enquanto um PM controlava caça-níqueis, policiais civis recebiam suborno dos contraventores para avisar sobre operações contra o jogo e liberar máquinas apreendidas. Até a perícia ganhava sua parte, fraudando laudos. Cinco acusados, entre eles uma delegada, foram presos ontem e 27 mandados de busca, cumpridos.A ação dos corregedores - batizada como Operação Apolo - apreendeu R$ 18 mil, duas armas e 600 máquinas de caça-níquel durante os dois meses de investigação. Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça mostrariam a delegada Joana Darc de Oliveira, assistente do 34.º Distrito Policial (Morumbi), supostamente avisando contraventores sobre a presença dos corregedores, fazendo uma operação contra a máfia na região.Os policiais civis acusados receberiam de R$ 300 a R$ 350 para liberar cada máquina de caça-níquel apreendida. O investigador Belmiro Rondelli Junior faria a recolha do dinheiro. O acerto ocorreria na delegacia. Oito suspeitos de dominar a exploração de caça-níqueis na região foram monitorados pela Corregedoria, entre eles o sargento da PM Ricardo de Jesus Bachega.De acordo com as investigações, quando a Corregedoria apreendia as máquinas, entrava em ação mais um acusado no caso: a perita criminal Anita de Paulo Pereira. Ela seria encarregada de atestar que as máquinas não estavam funcionando e, portanto, não haveria crime no caso.O suposto esquema começou a desmoronar quando os corregedores fecharam, em julho, um bingo clandestino que funcionava na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em Pinheiros, zona oeste. O lugar seria controlado por Luis Antônio Peguim, o Bozo, apontado pelos corregedores, ao lado de Waldir Graguim, o Didi, como um dos principais contraventores da região oeste. Com base nas provas recolhidas no lugar, a Corregedoria encontrou os primeiros indícios de corrupção. "Essa investigação começou há um ano", afirmou a delegada Maria Inês Trefiglio Valente, diretora da Corregedoria. Eram 4h30 quando 42 agentes comandados pelo delegado Luiz Antônio Rezende Rebello se reuniram na sede do órgão para começar a operação.Na casa do sargento, os corregedores encontraram R$ 18 mil. Ele trabalhava na 2.ª Companhia do 16.º Batalhão e foi preso, com a ajuda da Corregedoria da PM, enquanto trabalhava. No decreto de prisão temporária de cinco dias, a Justiça autorizou o uso de algemas nos acusados, caso fosse necessário. A delegada foi presa em casa, no Butantã, zona oeste, às 6 horas. Além deles, também foram presos a perita, em seu apartamento em Santana, na zona norte, e o investigador.Os corregedores vasculharam ainda o 34.º DP e a 2.ª Companhia do 16.º Batalhão, em busca de provas contra os acusados. Foram apreendidos computadores, agendas e documentos.COMO FUNCIONAVAO "CICLO COMPLETO DA PROPINA" PARA JOGOS ILEGAIS NA CAPITAL1 Contraventores e PMComerciantes e policiais exploravam caça-níqueis, bingos e até um cassino. 2Policiais civisEles receberiam propinas para deixar funcionar e para devolver máquinas apreendidas. 3 Perícia criminalPara que a máquina ficasse apreendida, era preciso de laudo. Mas esse era fraudado.4RecolheO dinheiro do acerto seria recolhido por um policial, que centralizava os recebimentos.5 PrevençãoOs donos da jogatina eram avisados para fechar suas portas em dias de operação policial.

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