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Espionagem de secretário derruba diretor da polícia

Um dos mais importantes delegados da cúpula da Segurança de SP, Desgualdo pediu imagens de encontro ao Shopping Higienópolis

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

O escândalo de espionagem contra o secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, derrubou ontem um dos mais importantes delegados da cúpula da Polícia Civil: Marco Antônio Desgualdo. Ex-delegado-geral, ele dirigia desde 2009 o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. E foi flagrado entre os homens que foram ao Shopping Pátio Higienópolis obter, por meio de suposta fraude, a fita de um encontro que Ferreira Pinto teve com um jornalista.O Estado procurou Desgualdo, mas não conseguiu localizá-lo. Foi o centro de compras que revelou a existência do esquema de espionagem contra o secretário. Depois que o vídeo foi divulgado na internet, o shopping informou que havia entregue as imagens a policiais civis que diziam estar investigando "uma ocorrência de outra natureza". Não havia nada, entretanto, a ser investigado, a não ser o próprio chefe da Segurança do Estado.Em um desses sites, ligado a um delegado de polícia, o ex-delegado Paulo Sérgio Oppido Fleury - demitido por Ferreira Pinto em 2010 sob a acusação de desviar mercadorias - ameaçava divulgar o vídeo antes de ele se tornar público. O objetivo da espionagem era jogar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) contra o secretário, acusando Ferreira Pinto de ser o responsável pela divulgação de informações contra o sociólogo Túlio Kahn, ex-coordenador de estatísticas da Secretaria da Segurança. Sites ligados a policiais civis afirmavam que Ferreira queria atingir seu colega de secretariado Saulo de Castro Abreu Filho, titular de Logística e Transportes, a quem Kahn seria ligado.Responsável por afastar 200 policiais do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e pela investigação sobre fraudes no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) que envolveram 162 delegados, Ferreira Pinto não nega que tenha se encontrado no shopping com o jornalista da Folha de S. Paulo. Mas disse ao Estado que o objeto da conversa foi o caso de uma escrivã despida em uma revista por corregedores - o abuso provocou a queda da cúpula da Corregedoria da Polícia Civil.Além de Desgualdo, outros dois delegados de classe especial são suspeitos no episódio do shopping: o ex-diretor do Detran Ivaney Cayres de Souza e o ex-diretor do Denarc Everardo Tanganelli. Fleury e um investigador conhecido como Cardenutto também são investigados. Outros dois diretores da Polícia Civil ainda podem cair.QUEM É QUEM NA CRISE?Antônio Ferreira PintoAssumiu a Secretaria da Segurança Pública em 2009, depois de passar pela Administração Penitenciária - para onde foi em 2006, pouco depois das rebeliões nos presídios. Uns o consideram próximo demais da PM. Outros dizem que ele não gosta da Polícia Civil.Saulo de Castro Abreu FilhoAtual secretário de Logística e de Transportes, foi titular da Segurança entre 2002 e 2006. Em sua gestão, três dos suspeitos de envolvimento na espionagem faziam parte da cúpula da Polícia Civil. Seria desafeto de Ferreira Pinto.Os suspeitos de "vigiar" o secretário Marco Antônio DesgualdoO diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa é próximo ao ex-secretário Saulo. Conhecido por investigar homicídios misteriosos, foi delegado-geral por oito anos.Everardo TanganelliÉ investigado sob suspeita de fraude na reforma do prédio do Denarc, setor que dirigiu até 2009. Na gestão, policiais foram acusados de achacar traficantes colombianos.Ivaney Cayres de SouzaEx-diretor do Detran e do Denarc. É investigado por suspeita de participar de fraude de R$ 40 milhões no sistema de emplacamentos do Detran e por lavagem de dinheiro. Paulo Sérgio Oppido FleuryEx-delegado, foi demitido sob a suspeita de desvio de mercadorias. É filho do delegado Sérgio Paranhos Fleury, símbolo da repressão na ditadura.

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