Enquanto a maioria das escolas de samba desfila seus enredos patrocinados no carnaval deste ano, duas agremiações - uma do Rio e outra de São Paulo - viram a promessa de apoio não se concretizar da forma que esperavam. A Unidos de Vila Maria, escola paulistana da zona norte, e a Inocentes de Belford Roxo, que ingressa pela primeira vez no Grupo Especial carioca, trazem em comum não só o enredo como a ausência da tão esperada ajuda financeira. Desfilando os 50 anos da imigração coreana no Brasil, elas acharam que teriam apoio da Associação Brasileira dos Coreanos (ABC). Cifras foram citadas: R$ 2,8 milhões para a Inocentes, R$ 2 milhões para a Vila Maria. A entidade, no entanto, nega veementemente que tenha prometido tais valores e afirma que o apoio se daria por meio da apresentação das escolas a empresas e comerciantes ligados à ABC - ou com origens coreanas que poderiam se interessar. Os presidentes das duas agremiações dizem que foram procurados pela associação no meio do ano passado e receberam a sugestão para o enredo. Paulo Sérgio Ferreira, que também é presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, afirma que a Vila Maria abriu mão de dois patrocínios - um de uma vinícola e outro de uma cidade paulista - para cantar hoje no Anhembi o enredo Made in Korea. Já Reginaldo Gomes diz que a Inocentes, que já estava para anunciar seu enredo, guardou o tema para um próximo carnaval e decidiu usar o sugerido pela ABC, levando amanhã para a Sapucaí As Sete Confluências do Rio Han. "A gente teve de repactuar alguns contratos e todos ficaram sabendo do que a gente chama de um verdadeiro calote", disse Gomes. Segundo o presidente da Inocentes, a escola bancou R$ 40 mil em visitas e eventos, entre eles a celebração de uma carta de intenções para formalizar o apoio, e não saiu para captar dinheiro porque representantes da ABC teriam dito que isso seria responsabilidade deles - e o recurso viria pela Lei Rouanet. A escola gastou cerca de R$ 6,5 milhões no carnaval deste ano. A Unidos de Vila Maria vai levar ao Anhembi um desfile orçado em R$ 3,6 milhões. Ferreira diz que a falta da verba prometida comprometerá o carnaval de 2014. "A escola acabou investindo muito, mas tem crédito no mercado e continua honrando seus compromissos", disse. No fim do ano, as duas escolas publicaram em seus sites nota rescindindo a parceria. Viagem. De acordo com o vice-presidente da ABC, o advogado Marcelo Choi, nunca houve qualquer promessa do tipo e a associação pagou apenas viagem e estadia para que integrantes das escolas pudessem conhecer melhor o país asiático. "Essa parceria foi cultural. Até porque a associação é sem fins lucrativos e não tem capacidade para financiar um evento desse porte".Apesar dos desentendimentos, as duas escolas prometem fazer uma bela homenagem ao cinquentenário da imigração coreana no Brasil.