Escola inaugura sala no 'formato Google'

Projeto reproduz ambiente descontraído dos escritórios da empresa, com rodas de conversa e tecnologia

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Por Victor Vieira
Atualização:

SÃO PAULO -  Espalhados sobre almofadas, bancos coloridos e até cubos mágicos gigantes, os alunos têm olhos atentos às telas - de uma televisão e dos próprios tablets. Na roda de conversa, mal dá para ver quem é o professor. Parece recreio, mas é hora de estudo: essa é a primeira sala de aula no formato Google do mundo, recém-inaugurada em um colégio particular de São Paulo.

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A nova sala foi aberta há um mês no Colégio Mater Dei, no Jardim Paulista, zona oeste da capital. O projeto é uma parceria da escola com o setor de educação do Google, que faz o lançamento mundial nesta terça-feira, 20, do programa baseado na experiência, que ganhou o nome de Google Learning Space. Outros colégios poderão buscar a empresa para reproduzir o modelo, parecido com o dos escritórios do Google, que aposta em ambientes de trabalho descontraídos para estimular a produtividade.

"O Colégio Mater Dei enxergou o potencial de aprendizagem nesse ambiente, que é uma parte muito importante da escola, e procurou empresa. A empresa viu que a ideia era sensacional e depois formatou como um programa mundial. Não é uma marca, mas um conceito", explica o diretor de Educação do Google no Brasil, Milton Burgese.

A ideia, que surgiu dentro do Mater Dei, era de criar um ambiente diferente para o ensino. Mais importante que o uso de tecnologia, o objetivo é construir um novo conceito de interação do professor com os estudantes. "A escola deve melhorar o ambiente colaborativo, de troca. Buscamos o Google porque é uma empresa que trabalha nesse sentido", explica o diretor do colégio, Sylvio Gomide. "O modelo de carteiras enfileiradas é passado. Daqui a um tempo, todas as nossas salas de aula serão assim", garante.

Sob segredo, a sala foi montada em seis semanas - as paredes ficaram cobertas por panos até a inauguração. Já em funcionamento, o espaço, sem carteiras ou quadro-negro, superou as expectativas dos alunos. "Na sala, podemos debater de igual para igual. Ficam os professores e os alunos sentados no chão, no mesmo nível", diz a estudante do 3º ano do ensino médio, Celina Machado, de 17 anos.

Além da relação mais próxima entre professores e alunos, a aposta tecnológica é forte. Nas classes, os alunos usam projeções multimídia, mapas virtuais, videoconferências internacionais e trabalhos coletivos, usando softwares de edição compartilhada de textos. "Nem sempre dava para entender bem só com um desenho do professor no quadro, por exemplo. Agora temos vários recursos à disposição", elogia Gabriel Fernandes, também de 17 anos, no 2º ano do ensino médio.

A "cola" também está liberada: é permitido aos jovens recorrer a internet a todo tempo para aprofundar a pesquisa, ajudar os colegas e até corrigir o professor, se necessário. Os alunos podem usar os tablets do colégio ou usar os próprios aparelhos. E a hora passa mais rápido nesta sala do que nas convencionais. "É bem melhor para prestar a atenção. O aluno não se entedia tão fácil", garante Celina. O clima descontraído, de acordo com os alunos, não atrapalha o andamento da classe. "Se alguém faz piadinhas ou desconcentra, a turma logo corrige", conta Fernandes.

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Transição gradual. Em sistema de rodízio, a sala Google é usada pelas turmas de ensino fundamental e ensino médio. Nos intervalos, o acesso ao local é livre. O uso do espaço depende do professor e do tipo de aula, em disciplinas tão variadas quanto Física e Ioga. Uma das inspirações para o espaço Google é o da sala de aula invertida, método muito usado em faculdades e colégios norte-americanos de ponta em que se muda a lógica de organização da classe. Por esse formato, os alunos pesquisam e aprendem o conteúdo em casa e usam o momento de aula para projetos conjuntos e uso de recursos interativos.

Sylvio Gomide, diretor do colégio, explica que a preocupação foi de respeitar o ritmo de cada docente. "Compreendemos o patamar em que cada professor está (em relação ao o uso desses novos formatos de aula) e estimulamos que se transformem", destaca. O colégio também investiu em capacitações da equipe para aproveitar o espaço. Na maioria dos casos, usam a sala Google os professores que já tinham afinidade com tecnologia. "Mas há surpresas: alguns professores 'coroas' já estão mais empolgados que colegas jovens", relata. "E o sucesso da proposta tem vencido a resistência que alguns tiveram no início".

Um dos mais assíduos da Sala Google, o professor de História Alexandre Muscalu conta que o trabalho no espaço é um desafio. "O educador se transforma em um mediador do conhecimento, que trabalha em uma ideia de rede", diz. Segundo ele, a organização física das salas tradicionais prejudica uma dinâmica de aula mais envolvente. "Já nesta sala temos um espaço lúdico, que estimula", completa. A proposta da Sala Google ainda não foi discutida em outros colégios. O Mater Dei planeja levar até julho o modelo a uma filial em São José dos Campos, no interior.

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