02 de fevereiro de 2011 | 00h00
A Polícia Civil instaurou inquérito ontem para investigar a morte do engenheiro eletricista Ricardo Gomes Martins, de 48 anos. Ele foi eletrocutado com descarga de 22 mil volts na Subestação Fradique Coutinho, da Linha 4-Amarela do Metrô, na zona oeste de São Paulo. Uma das principais dúvidas é por que a energia estava ligada no momento do acidente - mais um na lista de ocorrências desde o início da construção da linha, em 2004.
Por volta da 1 hora de ontem, Martins e outro técnico efetuavam manutenção no local, responsável por distribuir eletricidade para parte da Linha 4-Amarela. A dupla, segundo a polícia, trabalhava em um "cubículo" cercado por barras com alta corrente elétrica.
Em depoimento, o técnico contou que Martins escorregou e caiu sobre a rede elétrica. Ao ver o colega ferido, saiu para buscar ajuda. Acionado, um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência tentou reanimar o engenheiro, sem sucesso.
O delegado Mauro José Arthur, do 14.º Distrito Policial (Pinheiros), verificou o local do acidente ainda de madrugada. "Olhei atentamente o piso e não consegui entender como a vítima escorregou", observou no boletim de ocorrência. "Não há indícios de que a vítima tenha escorregado e o piso não proporciona tal verificação."
O policial citou, ainda, o fato de que o engenheiro trabalhava sem equipamentos de segurança, como luvas ou roupas especiais. "Também soube o delegado que o barramento em que a vítima sofreu o choque estava energizado. Não deveria, mas estava", consta do boletim.
Procurado, o Consórcio Via Amarela não respondeu, até as 20 horas, por que a rede de energia não estava desligada durante o serviço de manutenção. Em nota, o consórcio lamentou o ocorrido. "Trata-se de uma fatalidade com profissional de larga experiência que prestava serviços." Já o Metrô informou, também em nota, que acompanha os desdobramentos do caso e analisa as causas do acidente. Tanto o Consórcio Via Amarela quanto o Metrô prometeram dar assistência à família de Martins.
Precariedade. Para o Sindicato do Metroviários, a morte do engenheiro evidencia a "precarização" das obras realizadas em parcerias público-privadas. "Não há preocupação em prestar serviços com qualidade e segurança à população", afirmou a entidade.
A Superintendência Regional do Ministério do Trabalho e do Emprego enviou ontem representantes à subestação para apurar o acidente. O órgão destacou que não há regras que determinem o uso de equipamentos de proteção individual para a execução de manutenção elétrica.
CRONOLOGIA
Obra acumula acidentes
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