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Empresários de Guarulhos criticam corte de água

Indústrias da cidade da Grande São Paulo classificam redução feita pela Sabesp como injusta e dizem que medida pode afetar linha de produção

Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - Empresários de Guarulhos, primeira cidade da Grande São Paulo a sofrer racionamento oficial de água, classificaram como injusto o corte feito pelo Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) apenas para municípios abastecidos pelo Sistema Cantareira que compram água no atacado e disseram que a medida pode afetar a linha de produção das indústrias locais.

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"É um absurdo racionar água apenas para uma cidade. Independente de ser do Cantareira ou não, o governo deveria adotar a medida para todos, de forma equitativa", afirmou Maurício Colin, o diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) na cidade. "O racionamento pode provocar a paralisação das linhas de produção de várias indústrias", disse o representante de 3 mil empresários de Guarulhos.

O município começou com o rodízio de um dia com água e um dia sem para cerca de 850 mil pessoas no último sábado, 15. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarulhos (Saae) disse que o racionamento foi "imposto" pela Sabesp, que cortou em 15% o volume de água vendido à cidade. A companhia, por sua vez, informou que o corte foi determinado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE).

Embora ontem tenha sido o primeiro dia útil de racionamento oficial na cidade, o presidente da Associação dos Empresários de Cumbica (Asec), Aarão Ruben de Oliveira, disse que muitas empresas do polo industrial na região do aeroporto já tinham começado a comprar água de caminhões-tanque por causa de frequentes cortes no abastecimento nas últimas semanas.

"Nós já vínhamos sofrendo constantemente com redução velada do fornecimento de água. Algumas empresas passaram a usar água de reúso, abriram poço, ou compraram dos caminhões-tanque. Agora, vamos ver como ficará com esse corte efetivo, que consideramos injusto porque os impostos que geramos aqui vai para todo o Estado", disse Oliveira.

Rodízio. Quem não tem condições de comprar água do caminhão se vira como pode. É o caso do aposentado Roberto Ferreira, de 74 anos, que passou a fazer "rodízio de banheiro" em casa para evitar que as caixas d’água sequem. "Tenho três caixas de 500 litros. Uma fica só para tomar banho no banheiro do quarto. A outra a gente deixa para as fazer as necessidades no banheiro de baixo. E a terceira é a da cozinha", disse Ferreira, que mora na Vila São Jorge.

Já o vendedor autônomo Willians Rodrigues Costa, de 34 anos, tem sido obrigado a tomar banho na casa da sogra, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte da capital, desde sexta-feira porque não tem água suficiente na sua rua, na Vila Mena. "Aqui sempre foi um problema para chegar água. Agora, então, não vem mesmo."

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Com as torneiras secas, Costa chega a usar água comprada em galões de 20 litros para consumo próprio para lavar a louça. "Já não lavamos mais o quintal e uso água da chuva para limpar o xixi do cachorro. E mesmo sem água a conta continua vindo alta", afirmou o autônomo.

Segundo a Saae, a Sabesp reduziu a oferta de água para a cidade em 390 litros por segundo, do total de 2,5 mil litros por segundo comprados. A empresa informou ainda que além dos 850 mil moradores que são atendidos com água do Cantareira, outros 210 mil moradores de seis bairros já convivem com problema de desabastecimento desde o início de fevereiro por causa da redução do volume de água fornecido pela Sabesp pelo reservatório de Vila Industrial, em Itaquaquecetuba, pertencente ao Sistema Alto Tietê.

Ao todo, o Saae compra por atacado da Sabesp cerca de 87% da água que distribui aos 1,2 milhão de moradores; o Cantareira é responsável por 62% e o Alto Tietê por 25%. Os 13% restantes equivalem à produção própria do município.

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