Embaixo do Fura-Fila, lixo e moradores de rua

Elevado virou local de descarte de entulho e tem 7 pontos usados como moradia; vizinhos do Ipiranga e do Cambuci se queixam de degradação

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Por Márcio Pinho - O Estado de S. Paulo
Atualização:

Três anos após a inauguração do Expresso Tiradentes, a parte inferior da via elevada também conhecida como Fura-Fila se tornou ponto de descarte irregular de lixo e entulho e abrigo de moradores de rua. O problema ocorre principalmente nas Avenidas das Juntas Provisórias e do Estado. Comerciantes e vizinhos do Ipiranga, na zona sul, e do Cambuci, na região central, reclamam da degradação.

 

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A reportagem encontrou pelo menos sete núcleos de moradores de rua montados nos 174 pilares que dão sustentação ao elevado em seus 12 km, que ligam o Sacomã, na zona sul, ao centro. Até três moradores dividem um mesmo barraco improvisado no apertado espaço entre a Avenida do Estado e o Rio Tamanduateí. Ao longo das vias, são encontrados lixo, móveis abandonados e material de construção.

 

Entre os que se queixam da situação está Rose Dias, funcionária de uma oficina mecânica. Segundo ela, de manhã é comum encontrar nas áreas embaixo do Expresso Tiradentes móveis que foram descartados durante a madrugada. "O pessoal joga portas, sofás, e eles boiam quando há enchente."

 

A dona de casa Celeste Soeiro, de 64 anos, 41 deles no Ipiranga, diz que sua filha já foi assaltada. "Desde que inauguraram isso a região ficou mais perigosa e desvalorizada", diz. Os moradores do bairro temem que a ampliação do Expresso Tiradentes em direção ao extremo leste da cidade signifique mais degradação. O sistema será o monotrilho, um "metrô leve" sustentado por pilares que já estão sendo instalados na Avenida Anhaia Melo e se estenderão até Cidade Tiradentes. "Pode estar certo que uma nova via elevada vai trazer mais moradores de rua", opina o comerciante Roberto Camargo, de 26.

 

Vantagens. Um dos moradores de rua, Ronaldo Souza, de 26 anos, há quatro meses embaixo do Fura-Fila, diz que o local tem inconvenientes, como a avenida, perigosa por conta de seu movimento, a fumaça e o barulho. No entanto, uma das vantagens é o fato de "não ser incomodado, pois a área não é nobre".

 

Tanto que Souza deixa seu carrinho estacionado na calçada da Avenida das Juntas Provisórias, nas proximidades da Rua Gonçalves Ledo, onde, apesar de atrapalhar os pedestres, acredita não correr risco de ser guinchado por nenhum órgão público. O morador de rua, contudo, pede mais atenção do poder público. "A Prefeitura teria de nos ajudar a ter uma casa própria, mas ninguém vem aqui", afirma ele, que vive em um barraco de lona e madeira.

 

Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, visita realizada no último mês encontrou 12 pessoas em situação de rua nas duas avenidas. Uma aceitou tratamento médico e voltou para a casa de um familiar. As outras, afirma a pasta, recusaram-se a ir a um centro de acolhida.

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