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Em SP, prefeituras do interior se dividem entre decretos de Bolsonaro e de Doria

Municípios seguem direcionamentos opostos quanto à abertura de estabelecimentos não essenciais, como salões de beleza, barbearias e academias, medida defendida pelo presidente e rechaçada pelo governador

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Enquanto a prefeitura de Guararapes, na região noroeste do Estado de São Paulo, reabriu salões de beleza, barbearias e academias de ginástica, a de Ilha Comprida, no litoral sul paulista, instalou barreiras no acesso à cidade para impedir a entrada de turistas e reforçar o isolamento durante a pandemia do novo coronavírus. Adotadas nesta terça-feira, 12, as duas medidas acompanham decisões em sentidos opostos tomadas pelos governos estadual e federal.

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O presidente Jair Bolsonaro editou decreto que incluiu academias de ginástica, salão de beleza e barbearia como serviços essenciais. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) afirmou que não vai acatar a medida.  

Os atos mostram prefeitos divididos entre seguir as diretrizes do governo paulista, de manter o isolamento social, ou acompanhar as decisões de Bolsonaro, pela volta da atividade econômica. No decreto de Guararapes, cidade de 33 mil habitantes, o prefeito Tarek Dargham (PTB) informou que estava apenas adequando a legislação local ao decreto presidencial. Ele alega que também atendeu determinação do governo do estado, estendendo a quarentena até 31 de maio e obrigando o uso de máscara em todo o município, que tem 11 casos da doença.

O decreto da prefeitura de Ilha Comprida libera a entrada de donos de imóveis de temporada pelo período máximo de 32 horas e limitado a duas pessoas por família. O interessado precisa retirar um formulário ao passar pela barreira e devolver preenchido em sua saída da ilha. A prefeitura alega ter levado em conta o alerta do governo estadual sobre a rápida expansão da doença no interior e litoral de São Paulo. O número de inifectados dobrou em 11 dias e 64% das cidades já têm casos, enquanto 177 já registram óbitos. Ilha Comprida já tem um óbito e 24 casos confirmados.

A prefeitura instalou barreiras no acesso a Ilha Comprida para controlar a entrada de donos de imóveis de temporada Foto: Prefeitura de Ilha Comprida / Divulgação

Na mesma direção, a prefeitura de Itatiba colocou uma unidade móvel, nesta terça, 12, para fazer testes rápidos em moradores com sintomas da doença. Preocupada com o avanço da doença – a cidade tem 75 positivos e 2 óbitos – a prefeitura reforçou as seis barreiras sanitárias nos acessos. Mais de 300 pessoas que passaram pelas barreiras e, submetidas à medição de temperatura, acusaram febre, estão sendo encaminhadas para testes. A prefeitura alega que avanço da doença exige que o isolamento social seja reforçado.

O município de Tupã iniciou nesta terça a reabertura do comércio não essencial, depois que a prefeitura conseguiu uma liminar na justiça contra a quarentena estadual. Já foram reabertos salões de beleza, comércio geral, incluindo lojas de roupas e papelaria, e prestadores de serviços. Nesta quarta-feira, 13, retomam as atividades bares e restaurantes, inclusive para consumo local. Missas e cultos começam a funcionar no sábado, 16. A reabertura se antecipou ao Plano de São Paulo, do governo, que prevê a flexibilização gradual da quarentena. A cidade tem nove casos e um óbito.

O prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth (PSDB) anunciou na terça que vai autorizar o funcionamento de salões de beleza e academias de ginástica, com base no decreto do presidente Bolsonaro que considera essas atividades essenciais. A regra local deve ser publicada nesta quarta, 13. A cidade já soma 367 casos e 17 mortes pela doença. Ramuth enfrenta uma "queda de braço" com o governo estadual em medidas para flexibilizar o comércio. A maioria das cidades da região mantém a quarentena.

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Um estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e publicado no último dia 6 defendeu a necessidade de uma ação conjunta das cidades de uma mesma região para controlar a expansão do coronavírus. O modelo foi aplicado em 39 cidades do Vale do Paraíba e Litoral Norte, que têm São José dos Campos como referência.

De acordo com o pesquisador Miguel Monteiro, do Inpe, o estudo mostrou que as ações isoladas de cada município são insuficientes para deter o vírus. A pesquisa destaca a necessidade de criação de um comitê técnico-científico independente para orientar estratégias cooperativas entre os municípios. O estudo indicou que os municípios com menos casos estão fortemente conectados a São José dos Campos, com quantidade significativa de casos, por isso, as medidas adotadas nas cidades maiores refletem nas menores.

Epicentro da doença no País, São Paulo já acumula 3.949 mortes e47.711 casos confirmados.