PUBLICIDADE

Em São Paulo, escolas bilíngues recebem bebês a partir de 3 meses

Para diretores, professores e pais, ensino em dois idiomas desde cedo aumenta a capacidade das crianças de se comunicar em uma língua que não é materna; com reservas, alguns especialistas afirmam que promessa é maior que benefícios reais

Por Marina Azaredo
Atualização:

Gabriel ainda não sabe falar português, mas já está aprendendo inglês. Quando completou 1 ano, em janeiro, foi matriculado em uma escola bilíngue da zona sul de São Paulo, a Aubrick. Logo no início, passou por um período de adaptação, em que a língua estrangeira foi sendo introduzida parcialmente em sua rotina. Hoje, com 1 ano e dois meses, as educadoras da escola se comunicam o tempo inteiro em inglês com ele.Os pais de Gabriel optaram por um tipo de escola que tem sido cada vez mais procurado pela classe média. Motivadas pela alta competitividade do mercado de trabalho, que exige profissionais multilíngues ou, no mínimo, bilíngues, famílias têm matriculado seus rebentos cada vez mais cedo em escolas que oferecem educação também em inglês.Aberta em 2009, a Aubrick recebe 90 alunos por ano e já tem fila de espera para diversas turmas. Em São Paulo, há berçários bilíngues que atendem crianças de apenas três meses. "Eu já tive restrições ao bilinguismo, porque não tinha muito conhecimento. Mas estudei muito e concluí que colocá-lo logo em uma escola bilíngue seria o melhor para ele. A gente nasce com HD (disco rígido do computador) vazio, e essa é a melhor hora para enchê-lo", diz a publicitária Mariana Werebe Saba, de 37 anos, mãe de Gabriel.Educadores e coordenadores de escolas bilíngues defendem que, quanto mais cedo a criança tiver contato com a língua, mais natural será o processo de aprendizagem."Acreditamos que a hora de inserir essa outra referência linguística é justamente nos primeiros anos de vida", afirma Patrícia Lozano, diretora pedagógica da Up School, que fica na Lapa, na zona oeste, e completa cinco anos em 2014.De acordo com Patrícia, é natural que as crianças usem as duas línguas ao mesmo tempo. "Frases como 'eu vou para a school' são normais, pois a criança se sente muito confortável com os dois idiomas", diz. No Primetime, no Morumbi, que tem sete anos e recebe bebês a partir de 3 meses, o primeiro contato com a língua é feito por meio de livros e canções. Aos 2 anos e meio, as crianças são inseridas em um sistema chamado "dual immersion", em que há duas educadoras para cada grupo de oito crianças: uma é a referência em inglês e a outra, em português."É importante ter contato com os fonemas e a construção gramatical desde o início. Mas também acreditamos que manter a experiência na língua materna seja essencial para a segurança e o conforto emocional das crianças", aponta Christine Bruder, diretora do berçário.Críticas. Justamente por proporcionar um distanciamento da realidade que a criança vive em casa, o bilinguismo nos primeiros anos é visto com reservas por alguns especialistas."As escolas vendem isso como um produto. Afirmam que os alunos vão sair de lá falando inglês como um americano nativo. Mas é preciso respeitar a identidade brasileira da criança", recomenda Terezinha de Jesus Machado Maher, coordenadora de graduação do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Ninguém sai de uma escola bilíngue falando como um nativo. E a verdade é que nem precisa. Crianças e adultos podem se dar muito bem falando o inglês brasileiro."Para quem opta por colocar os filhos em berçários e escolas de educação infantil bilíngues, o investimento não é baixo. As mensalidades chegam facilmente a R$ 4 mil e dificilmente saem por menos de R$ 2 mil. "Tenho certeza que vai valer a pena para o futuro dele", diz Mariana, a mãe de Gabriel.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.