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Em Salvador, 200 mil pessoas trabalham para garantir carnaval

Cordeiros, motoristas, seguranças e faxineiros fazem parte de um contingente de servidores temporários

Por Tiago Décimo e SALVADOR
Atualização:

Jederson Régis, de 21 anos, queria estar no trio elétrico, comandando a festa. Patrícia da Conceição, de 28, e Gilvan Carlos Junior, de 24, preferiam estar apenas curtindo, seguindo os blocos de Salvador. Paulo Henrique Santos, de 32, não trocaria sua função "por nada nesse mundo".Régis é cantor, tem uma banda de pagode chamada Swing de Gueto, mas vai passar os seis dias do carnaval de Salvador trabalhando como segurança em um camarote do Circuito Dodô (Barra-Ondina). Patrícia é faxineira, mora em Feira de Santana e está pela primeira vez na folia, como vendedora ambulante. Carlos vive de bicos na construção civil e há seis anos aproveita os dias de folia para "tirar uns trocados" como cordeiro. E Santos é motorista de trio elétrico há dez anos. "Já conheci o Brasil inteiro com as micaretas."Os quatro integram o contingente de 200 mil pessoas que, segundo estimativa da prefeitura, trabalham diretamente no carnaval de Salvador. Para cada dez foliões nas ruas, há uma pessoa prestando algum serviço. A "tropa" mais numerosa é a de cordeiros. Blocos maiores chegam a contratar 2 mil deles. O trabalho é difícil, cansativo, a remuneração é baixa (R$ 34 por desfile), mas Carlos diz que, "com jeito, dá para aproveitar". "O pessoal (supervisores) está sempre de olho", conta o cordeiro. "Mais para o fim (dos circuitos), fica mais tranquilo. Já ganhei até beijo", revela. "Cada carnaval tem seu segredo", conta o motorista Santos, que participa do 10.º carnaval de Salvador. Ele conta, por exemplo, que a carreta do trio elétrico exige mais atenção, principalmente em manobras. Além disso, não se usa o acelerador. A falta de experiência nas funções que vão exercer na festa é o maior temor de Régis e de Patrícia. O cantor Régis atuou apenas como segurança em pousadas. "É muito diferente (no carnaval), é muita gente junta, mas estou achando tudo tranquilo, as pessoas vêm na paz para a festa", diz ele, que trabalha das 15 às 3 horas, todos os dias, controlando um camarote. Patrícia foi contratada por R$ 200 para tomar conta da banquinha montada perto da Avenida Oceânica. O proprietário do ponto é um amigo de infância. "Ele me deu as dicas principais, mas nunca pensei que fosse tanta gente", conta.Entre as "dicas" está uma barraca feita de saco plástico preto, atrás da banquinha, onde Patrícia dorme entre o fim de um dia de desfiles e o início do seguinte - prática ilegal para a prefeitura. "Vim para passar a semana aqui, de quinta a quinta", afirma. "Se saio, posso perder o ponto."

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