''Em 3 meses, gastei R$ 2 mil'', diz pai de preso

Cada CDP tem sua regra sobre o que pode ou não entrar no pacote de produtos para o detento

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Por Bruno Paes Manso
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O funcionário público Roberto (que pediu para não dar o sobrenome), de 50 anos, sempre gostou de assistir a programas policialescos. E concordava com os apresentadores quando reclamavam que "cidadão de bem" tem de sustentar "vagabundo" na prisão. Até que seu filho Marcelo, de 21 anos, foi preso por roubo e acabou em um Centro de Detenção Provisória (CDP). Semanalmente, o pai agora leva "jumbo" (pacote de produtos e mantimentos) com papel higiênico, sabonete, sabão em pó, detergente, uniforme e comida. "Eu que tenho de sustentar meu filho. Em três meses, gastei mais de R$ 2 mil", conta ele, que para arcar com as despesas já vendeu seu carro, um Fiesta, por R$ 5 mil."Os custos na prisão são maiores do que uma faculdade", resume a dona de casa Aparecida, cujo filho também está em CDP, o de Franco da Rocha.Para orientar parentes sobre o que pode ou não entrar na prisão, o advogado Luciano César Pereira criou um blog no qual publica listas de "jumbos" de diferentes CDPs. Familiares que levam produtos proibidos correm o risco de vê-los barrados pelo agente penitenciário.Na lista do "jumbo" do CDP 4 de Pinheiros, por exemplo, não pode entrar sabonete azul, preto, amarelo ou bege. Já no CDP 3 de Pinheiros só o amarelo é vetado. Quando presos são transferidos, a primeira providência dos familiares é correr atrás da lista. "Até mesmo rodos e as vassouras precisam ser entregues. O CDP não pede, mas todos sabem que, se não levar, o filho ficará sem", diz Pereira.Parentes podem levar de uma a duas horas para receber o aval do agente. Para quem não pode ir pessoalmente, a solução é o Sedex. "Tem de ser em caixa tipo 5, que custa R$ 12,60, e ainda tem o custo do Sedex: mais R$ 24. Sem falar do "jumbo"", diz a mãe de um preso do CDP de Guarulhos. O defensor público Marcelo Carneiro Novaes lembra que familiares devem levar cobertores, lençóis e blusas de frio. Por causa da superlotação, muitos presos dormem no chão. Mesmo no inverno, o banho é frio. Sem falar na falta de remédios e serviços médicos e odontológicos.Nos CDPs, médicos são apelidados de "Dr. Dipirona", porque, segundo eles, receitam a substância para diversas doenças. "Ainda há racionamento de água e a estrutura elétrica está danificada por causa da superlotação", diz Novaes.

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