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Em 1 ano, uso do principal serviço de compartilhamento de bike cai 41,8%

Bicicletas quebradas, dificuldade para retirá-las das estações e falta de pontos estão entre as queixas

Foto do author Priscila Mengue
Por Juliana Diógenes e Priscila Mengue
Atualização:
Foto: Daniel Teixeira/ Estadão Foto:

SÃO PAULO - O advogado Guilherme Coam, de 37 anos, decidiu adotar a bicicleta como meio de transporte do trabalho para casa. O projeto, porém, durou menos de 15 dias. No período, ele encontrou apenas três vezes o equipamento disponível em estações do Bike Sampa – principal sistema de compartilhamento de bicicletas em São Paulo – nas imediações das Avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio, na região central. “Constatei que o sistema não é confiável em relação à disponibilidade”, diz ele, que comprou uma bicicleta elétrica para alternar com o ônibus.

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As reclamações se repetem entre outros usuários e ex-usuários do serviço, que teve queda de 41,8% em um ano – passando de 703 mil viagens, entre agosto de 2015 e julho de 2016, para 409 mil, entre agosto do ano passado e julho de 2017. Também caiu o número de viagens do sistema de aluguel CicloSampa. Entre agosto de 2015 e julho do ano passado, foram realizadas 19.206 viagens. Já de agosto de 2016 a julho deste ano, o programa registrou 16.077 (-16,3%). 

Entre as queixas mais comuns dos usuários está a dificuldade para destravar veículos nas estações. “Já faz uns dois anos que as estações parecem estar menos cuidadas. Muitas vezes estão até fora de atividade”, diz o publicitário Fabiano Gabilan, de 44 anos, usuário do Bike Sampa desde o início. 

Já o designer Lucas Bastos, de 30 anos, afirma já ter encontrado bicicletas sem banco e com o pneu furado nas imediações da Avenida Faria Lima, na região oeste. Por isso e pela dificuldade de encontrar veículos disponíveis, desinstalou o aplicativo do Bike Sampa há três meses, após ter aderido em 2014. Outro reclamação frequente é a dificuldade de encontrar estações em bairros fora das áreas central e oeste da cidade. 

Foto: Daniel Teixeira/ Estadão Foto:

As corridas pelo Bike Sampa são grátis até a primeira hora. Se o ciclista ficar mais tempo com o veículo, paga R$ 5 por hora. Pelo CicloSampa não há cobrança nos primeiros 30 minutos. Depois, é preciso pagar R$ 5 a cada meia hora. 

Sem cuidado. Para a engenheira Bianca Macedo, da associação Ciclocidade, a redução das viagens se deve a um “sucateamento” do serviço, que inclui falta de manutenção. Para ela, a Prefeitura deveria fiscalizar a oferta do serviço, que teria falhado ao não conseguir fidelizar os usuários. Da implementação até julho deste ano, 750 mil pessoas fizeram o cadastro.

Para Bianca, porém, a redução das viagens não pode ser usada como referência sobre o número de ciclistas na cidade. “O sistema caiu de qualidade. É natural que essas pessoas tenham procurado outras alternativas, comprado uma bicicleta ou pedido emprestado, por exemplo”, afirma.

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O pesquisador do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento, Thiago Benicchio, concorda que o levantamento não é preciso para estimar o uso da bicicleta na cidade. “Não tem como avaliar sem saber como o sistema estava funcionando, sem saber se teve momentos em que a disponibilidade era menor que a necessário. Se a pessoa tenta em um dia e não consegue, no outro não consegue de novo, na terceira vez procura alternativa”, diz. 

A menos. Em 2012, um termo de cooperação entre a Prefeitura de São Paulo, o Banco Itaú, patrocinador do Bike Sampa, e as empresas operadoras previa a instalação, ao longo de três anos, de 300 estações – cada uma com 12 vagas – e 3 mil bikes. Esse compromisso deveria ter sido finalizado dois anos atrás, em 2015, mas o termo não foi cumprido. Hoje, há na capital paulista 247 estações e cerca de 720 bicicletas na rua (e outras 180 em manutenção).

Também em 2012, a Prefeitura assinou termo de cooperação com o Bradesco Seguros para o CicloSampa. Na ocasião, foram planejadas 20 estações e 200 bicicletas até 2012. Mas o termo também não foi cumprido. Hoje há 17 estações e 170 bicicletas no rotativo (10 por estação). 

Empresas. Patrocinador do Bike Sampa, o Banco Itaú admite que o ritmo de instalação de estações e a disponibilidade de bicicletas caiu. “Problemas de vandalismo”, segundo a empresa, explicam a queda no total de veículos. Entre maio e agosto, por exemplo, cem bicicletas foram alvos de algum tipo de depredação. Estações em ruas desertas do centro e da zona sul estão entre as mais visadas pelos criminosos.

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“Para compensar as estações que não foram instaladas e regularizar o contrato anterior, foi firmado um termo de cooperação” que resultou em processos de doação para a Prefeitura, explica o banco.

Segundo o Itaú, as doações envolveram a entrega de 2 mil paraciclos, 300 bicicletas para adultos e crianças e cartilhas educativas sobre mobilidade, além de equipamentos de segurança como capacetes e coletes.

Além do vandalismo, Tomás Martins, CEO da TemBici, empresa que opera o Bike Sampa, atribui o baixo número de bicicletas disponíveis à tecnologia obsoleta. “Estamos aguardando a definição pela Prefeitura do novo modelo jurídico para ver como vamos nos adequar e poder realizar os investimentos que o sistema necessita.”

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Na Câmara Municipal, vereadores discutem o pacote de concessões que revê, entre outras questões, o modelo de aluguel de bicicletas. Já a Prefeitura analisa as novas regras para o sistema de compartilhamento, após a suspensão de edital de chamamento público pelo Tribunal de Contas do Município no ano passado. O edital previa a continuidade do Bike Sampa por 36 meses. Sem o chamamento, desde setembro de 2015 o sistema funciona por meio de um termo temporário de autorização.

Luciana Nicola, superintendente de Relações Governamentais e Institucionais do Itaú Unibanco, também culpa as limitações desse termo de cooperação com a Prefeitura. “Como a gente está com um documento precário não é possível fazer qualquer alteração desse sistema”, justifica. 

O Itaú diz ter interesse em continuar a parceria, com a participação de mais empresas. “São Paulo permite ter um sistema de bikesharing muito grande, porque você tem de ir para os extremos da zona sul, zona norte, leste. O Itaú nunca vai conseguir patrocinar um sistema tão grande como esse porque exige muito capital.”

Procurado, o Bradesco Seguros informou que a Agência Trunfo responderia pelo CicloSampa. “Foi uma questão de falta de tempo”, diz Luciano Samarco, CEO da agência, sobre o não cumprimento do acordo para instalar 20 estações. Segundo ele, os 17 locais que existem hoje, com 170 bikes, estão “dentro do que foi liberado para implementação na época”.

Prefeitura. A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes informou que a gestão João Doria (PSDB) finalizou o decreto que regulamenta o serviço de compartilhamento de bicicletas no município de São Paulo. O documento, diz a Prefeitura, está em fase de tramitação e será publicado em breve.

O novo formato, de acordo com a administração municipal, vai trazer mudanças, como a ampliação do sistema, incluindo o aumento na quantidade de estações. Também prevê a expansão do serviço para além das regiões oeste e centro expandido da capital paulista.

Dados do Bike Sampa já indicam mudança na demanda territorial do sistema. No início, o ponto de aluguel mais buscado era o Parque do Ibirapuera, na zona sul. Ao longo do tempo, a estação do Largo da Batata, na zona oeste, passou a ser mais usada. Essa área fica próxima a estações de ônibus e metrô. 

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Outra promessa da Prefeitura é uma melhorar a “integração com outros modais de transporte”, para que “uma parcela maior da população possa utilizá-lo”. 

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