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Elas driblam a rotina para sambar à frente da bateria de escolas

Três rainhas precisam da família e de organização para vencer as tarefas diárias, conseguir manter a forma e desfilar em São Paulo

Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Acordar cedo, trabalhar, cuidar da família, arrumar a casa e manter a aparência impecável. A rotina de mulheres comuns é uma realidade para três rainhas de bateria que vão desfilar no carnaval deste ano. Em um universo onde atrizes, modelos e apresentadoras se destacam, elas se dividem entre a correria do dia a dia e a completa transformação quando o samba começa a tocar. Na confeitaria Ofner do Shopping Center Norte, na Vila Guilherme, zona norte da capital, a gerente Márcia Freire, de 30 anos, trabalha em pé de domingo a domingo. Com maquiagem discreta, cabelos presos e um sorriso atencioso, coordena a equipe e atende os clientes, que, muitas vezes, nem fazem ideia de que ela ocupa um dos postos mais disputados nas escolas de samba. Pela primeira vez, ela é rainha de bateria na Unidos de Vila Maria, agremiação que voltou ao Grupo Especial no último carnaval. "Há quatro anos, fui para um ensaio depois de fechar a loja. Estava precisando desestressar. Fiquei como passista. Depois, fui princesa e, agora, sou a rainha. Fui buscar alguma coisa para relaxar e encontrei a felicidade", diz Márcia.

Antes e depois. Márcia Freire, rainha de bateria da Unidos de Vila Maria, divide-se entre o balcão da confeitaria onde trabalha e a realeza do samba Foto: Hélvio Romero/Estadão e JF Diório/Estadão

Mas conciliar as duas vidas não é fácil. "Acordo às 6 horas, preparo o café da manhã, levo minha filha para a casa da avó e venho trabalhar; depois, vou malhar. Quando tem ensaio, já coloco meu vestido e minha sandália. Se não tem, vou para casa, para meus afazeres." A filha de Márcia tem 10 anos e vai desfilar na ala das crianças. "Ela já fica sambando pelos cantos da casa."

Como mora em Sapopemba, na zona leste, que está longe da quadra da escola, ela conta com a ajuda não só da família, mas de amigos, que a recebem em casa antes dos ensaios. "O carinho das pessoas é de onde tiro forças para ser essa Mulher Maravilha", brinca.

Outro desafio é resistir às guloseimas vendidas na loja. "É tentação de fácil acesso. Quando tem lançamento de produto, tenho de provar. É difícil, mas como de três em três horas e trago sempre uma comida saudável. Mas amo um prato de arroz, feijão, batata frita e bife", diz a rainha, que pesa 59 quilos e tem 1,72 metro.

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Honra. Mãe de duas crianças, a analista de recursos humanos Nadege Ariane Delduque, de 31 anos, começou a desfilar em 2008 e é rainha da Acadêmicos do Tucuruvi há dois anos. "Para mim, é uma honra ser rainha de bateria. Entre várias personalidades, fui escolhida e é maravilhoso estar representando minha escola. Lá, eles dão valor para quem é da comunidade. Pode demorar, mas o reconhecimento chega."

Nadege diz que cresceu acompanhando o carnaval, pois seu pai fez parte das escolas Nenê de Vila Matilde e Unidos do Peruche, mas sua carreira começou na Camisa Verde e Branco. Após seis anos, foi levada para a Acadêmicos do Tucuruvi por seu marido, que é diretor de barracão da agremiação.

"Ele é da comunidade. Moro ao lado da quadra e fui indo. Somos uma família: quando não tem ensaio, tem aniversário, a gente sempre está junto. Até que, na brincadeira, falei que ainda seria rainha de bateria e aconteceu."

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A rainha, que mantém a forma nos ensaios da escola e na academia, também recebe apoio para organizar sua rotina. "O que me salva é que tenho uma família maravilhosa. Todo mundo é muito unido. Trouxe minha mãe, meu irmão, meu padrasto e minha tia para a escola. E meus filhos também vão desfilar."

Moradora do Tucuruvi, na zona norte, ela trabalha na Liberdade, na região central, das 8 às 18 horas e tenta ter uma rotina organizada. "Acordo, coloco meu filho na perua, deixo minha filha pronta, vou trabalhar, vou para casa, vou para a academia, cuido da casa. É bem corrido."

Trajetória. A educadora física Aline Oliveira, de 25 anos, ainda era uma adolescente quando entrou na Mocidade Alegre. Sua participação foi crescendo ao longo dos anos e, nos últimos três, carrega a coroa de rainha da bateria. "Eu entrei para fazer aulas de teatro. Depois, entrei na bateria. Em 2007, fui convidada para ser uma bailarina na comissão de frente e, em 2012, recebi o convite para ser a rainha." Antes disso, ela foi ainda destaque de alegorias e coreógrafa de um grupo de dança da agremiação. Na bateria, Aline tocou tamborim e surdo de terceira.

Bailarina clássica, formou-se em educação física, profissão que exerce quando não está se dedicando à escola. Três vezes por semana, no período da manhã, Aline dá aulas de pilates. Em uma academia, ela trabalha de segunda a sexta. "O meu trabalho já me permite manter a forma. Nem faço uma dieta rigorosa", conta.

A rainha elogia a iniciativa de dar espaço para mulheres da comunidade. "Você acaba dando oportunidades para pessoas desconhecidas. Todo mundo tem um talento e pode conquistar um espaço. Ser da comunidade é importante, porque você vai para a escola, ajuda, sabe falar um pouco de cada coisa, porque vive-se um ano inteiro de dedicação."

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