É utopia pretender impedir que surjam moradores de rua

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Por Análise: Silvia Schor
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No caso dos moradores de rua, há a procura de respostas para duas questões centrais: o que leva as pessoas às ruas e o que fazer? Para a primeira, ainda não se conseguiu uma resposta consistente. Sabe-se que alguns fatores se encontram sempre associados. Assim, álcool, desemprego e rompimento de relações familiares surgem repetidamente nas histórias pessoais daqueles que foram viver nas ruas. Pobreza, dissolução dos vínculos familiares e desemprego são condições que muitas famílias, e pessoas, enfrentam. Nem todas, contudo, levam à perda das condições mínimas que impedem a chegada às ruas.O que fazer? Como toda política de redução da pobreza, as intervenções junto aos moradores de rua devem ser multidimensionais. Isso porque todas as dimensões de vida dessas pessoas se encontram atingidas: saúde, emprego, família, moradia, sociabilidade. Isoladamente, é possível identificar alguns fatores que podem tornar as políticas públicas dirigidas aos moradores de rua mais eficientes. Sem pretender uma enumeração exaustiva, pode-se apontar duas condições: a diversificação da rede de atendimento e a provisão de serviços de moradia social, notadamente para aqueles que estão chegando às ruas.Duas observações finais. O consumo e a venda de drogas não são, certamente, a causa única que leva as pessoas às ruas. São, entretanto, um importante elemento da dinâmica das ruas que possibilita a geração de renda, reduz a eficácia das ações públicas, degrada as condições físicas e seduz jovens e adolescentes. E cabe observar que a questão dos moradores de rua não é uma "questão de polícia", mas uma "questão social". Há crescimento dessa população em todas as grandes cidades do mundo. Sempre houve pessoas vivendo nas ruas. Os moradores de rua hoje, entretanto, carregam as determinações da época em que vivemos. É utopia pretender, portanto, que políticas públicas possam reintegrar toda a população e impedir que novos moradores de rua surjam nos centros urbanos, e até mesmo em zonas rurais. É dever do Estado, contudo, dispensar atenção a essa população e procurar reduzir as condições que estão na origem desse processo. É PROFESSORA DA FEA-USP E COORDENADORA DA PESQUISA DA FIPE SOBRE MORADORES DE RUA

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