E o trânsito paulistano virou uma palhaçada

Grupo inspirado nos Doutores da Alegria apresenta esquetes de humor todos os dias para motoristas em semáforo da zona oeste da capital

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Por Marici Capitelli
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Os motoristas buzinam, gritam e gesticulam. Mas não é de estresse, é de descontração e até alegria. Parece improvável, mas a cena tem acontecido no trânsito de São Paulo. Os responsáveis por esse "milagre" são os Psicólogos do Trânsito, uma trupe que, baseada nos Doutores da Alegria, resolveu humanizar a rotina de quem dirige pelas ruas da capital. Voluntários, eles são palhaços que fazem performances no cruzamento das Ruas Henrique Schaumann e Teodoro Sampaio, em Pinheiros, na zona oeste. "Queremos arrancar risos dessas pessoas que estão estressadas. Quando conseguimos isso, já valeu o trabalho", diz Guilherme Brandão, de 24 anos, o Dr. Cucuti, idealizador do projeto. As pessoas não sorriem de imediato. Quando o semáforo fecha e os palhaços começam a se posicionar na faixa de pedestre, boa parte dos motoristas fecha as janelas. No fim da apresentação, que dura em média um minuto, o comportamento dos condutores muda. Eles tocam a buzina, abrem os vidros, acenam e gritam elogios.De acordo com a trupe, desde que as apresentações começaram, em 2 de agosto, eles nunca foram hostilizados. "Alguns são indiferentes, mas nunca fomos maltratados", diz Andréa Brandão, de 25 anos, a Dra. Fofucha.Alexandre Godoy, de 37, que passa sempre pelo cruzamento, já viu as performances. "Como conheço os números, acho interessante observar a reação das pessoas nos carros. Outro dia, tinha um homem que parecia muito estressado dentro de uma Mercedes. Ele não conseguiu rir, mas esboçou um sorriso", diz.A trupe criou cinco esquetes para distrair os motoristas. No fim de todas elas, o grupo levanta uma faixa com a frase "Um dia sem sorrir é um dia desperdiçado", de Charlie Chaplin.Dos cinco integrantes do grupo, quatro são parentes. A família mora em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Dois palhaços são irmãos e o outro é sobrinho. O pai fica no apoio logístico e um amigo completa o quadro."É um trabalho novo e que requer estudos, mas com certeza pode causar um relaxamento, um momento para respirar sossegado", avalia a psicóloga Raquel Almqvist, do Departamento de Psicologia, da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). "Está propiciando uma trégua (ao motorista)."

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