30 de julho de 2011 | 00h00
Uma guerra de versões sobre as razões da queda do voo 447 em 31 de maio de 2009 está declarada entre Air France e Airbus. Ainda que nas aparências as duas empresas sigam cordiais, as direções de ambas travam uma batalha para empurrar a culpa pela tragédia e pela morte dos 228 passageiros e tripulantes. Enquanto o discurso do fabricante reitera que "não há mais dúvidas" sobre a culpa dos pilotos, a companhia aérea frisa que ao longo dos três minutos de queda o trabalho dos pilotos foi dificultado por informações eletrônicas contraditórias.
Ao Estado, um executivo da Airbus afirmou que o relatório do Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA) é cristalino sobre a suposta responsabilidade da tripulação - ainda que a direção do escritório afirme que não tem provas sobre o assunto. "Nós sempre dissemos que havia algo além da falha das sondas de velocidade. Elas foram o evento de origem, é verdade, mas há bem mais do que isso", diz o executivo.
Já a Air France mantém o discurso oposto. Em nota oficial, a empresa afirmou que a queda do 447 foi causada "por uma combinação de múltiplos elementos improváveis que conduziram à catástrofe em menos de 4 minutos". A companhia aérea cita então o congelamento dos sensores de velocidade - os tubos pitot - e a "perda da proteção de pilotagens associadas". "Em um ambiente de pilotagem degradado e desestabilizador, o aparelho perdeu sustentação em alta altitude, não pode ser recuperado e atingiu a superfície do Oceano Atlântico em grande velocidade", diz a empresa, que ainda elogiou a atuação dos pilotos.
Famílias. Para o presidente da Associação de Parentes das Vítimas do Voo 447 da Air France, Nelson Faria Marinho, o valor das indenizações para as famílias deve subir, pois, além da falha das sondas medidoras de velocidade (pitots) do avião da Airbus, a falta de treinamento dos pilotos da Air France contribuiu para a tragédia.
Logo, as duas empresas serão responsabilizadas. "Se o avião cai por causa de um rio, a indenização é fixada por conta da morte causada por uma fenômeno natural. No entanto, se os pilotos não são treinados e um equipamento falha, a punição tem de ser severa para as duas empresas, para que elas tomem providências e não aconteça outra tragédia."
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