Documentário mira formas de ensino alternativo

Obra feita com 'vaquinha online' expõe colégios públicos e privados que apresentam de salas de aula sem parede a alunos que decidem o que vão aprender

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Por Victor Vieira
Atualização:

Renovar a escola exige mais do que uma mão de tinta e outros reparos para esconder rachaduras. Com a ideia de retratar a educação que tenta romper com o passado, dois jovens decidiram conhecer dez colégios que seguem modelos diferentes do tradicional. O resultado das visitas é

Quando Sinto Que Já Sei

, documentário financiado coletivamente que estreia depois de amanhã em São Paulo.

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Amigos da adolescência, o jornalista Raul Perez e o documentarista Antônio Lovato, ambos de 24 anos, se reaproximaram pelo interesse em educação. Do reencontro, surgiu a ideia do filme. "Nossas inquietações eram parecidas. Passamos por várias escolas e não gostamos de nenhuma delas", conta Perez. "Todas seguiam um modelo do século 19: os alunos só copiam o que o professor escreve na lousa", critica.

As gravações começaram em janeiro de 2012, com dinheiro próprio da dupla. Por meio de um Crowdfunding - espécie de "vaquinha online" -, eles conseguiram quase R$ 50 mil para custear a produção, doados por 480 apoiadores. As doações foram essenciais para pagar as viagens - quatro escolas são de fora do Estado de São Paulo.

Nos dez colégios, públicos e privados, eles encontraram formatos múltiplos: salas de aula sem paredes, turmas com várias idades, alunos que decidem o que vão aprender. Nas diferenças, Perez identifica um ponto em comum. "Todos formam para a autonomia, emancipação. E a educação é mais importante que o conteúdo", completa.

Só na metade de 2013, Perez e Lovato trocaram as câmeras pela ilha de edição. Além de disponível para download no site quandosintoquejasei.com.br a partir da data de estreia, o filme pronto será exibido em escolas, universidades, empresas e onde mais forem convidados.

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Educação democrática.

Aos 9 anos, Luísa Carneiro já estudou em três colégios. Hoje está no preferido: a Politeia, na Água Branca, zona oeste da capital, um dos exemplos citados no documentário. "Aqui as aulas são mais divertidas", conta. "Também fazemos muitas atividades fora da escola", diz Luísa.

A proposta da Politeia, particular, é de educação democrática. Os estudantes participam da gestão - há assembleias para debater até os conflitos internos. Parte do conteúdo é escolhida pelas crianças, que fazem pesquisas sobre temas do próprio interesse. E sem as temidas provas: a avaliação, segundo os educadores, é contínua.

Para Osvaldo de Souza, educador da escola, o formato aumenta o engajamento dos estudantes. "Não precisamos torcer para que todos aprendam ao mesmo tempo, do mesmo jeito", aponta. "Eles aprendem com assuntos que gostam", diz.

Não há salas de aula, mas grupos de estudos com poucas pessoas, acompanhados por tutores, com a tarefa de estimular reflexões e orientar pesquisas. Os alunos trabalham com colegas de diversas faixas etárias. "A gente aprende com os meninos mais velhos", garante Luísa.

A veterinária Carolina Carneiro, mãe de Luísa, não se arrepende da opção pelo modelo alternativo. Recorda, porém, que a escolha foi difícil. "Como estudei em colégio tradicional, tinha medo de como seria", lembra. "Mas percebi que ela se desenvolveu tão bem ou melhor do que as outras crianças."

Outra semelhança entre os projetos, segundo Perez, é o envolvimento das famílias dos alunos e das comunidades onde estão as escolas. "Esses projetos só funcionam com o apoio de fora, quando todos entendem a proposta", destaca. "É uma educação que se dá na relação, na troca, no olho no olho."

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