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Distância entre o coletivo e o individual deve crescer mais

Em 2002, transporte de massa reverteu queda; investimento é essencial

Por Eduardo Reina
Atualização:

SÃO PAULO - A população da Região Metropolitana de São Paulo tem usado cada vez mais os meios de transporte coletivo para se deslocar. Esse resultado da pesquisa “Origem e Destino” mostra o rompimento de uma evolução constante registrada desde 1992, com pico em 2002 para as viagens em transporte individual - mesma data que marcou a inversão, com crescimento do modo de viagens coletivo. Dos 25,2 milhões de viagens motorizadas diárias constatadas em 2007, 13,9 milhões (55,1%) são realizadas de modo coletivo e outros 11,3 milhões (44,9%) por meio de modo individual.

 

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Entre 1997 e 2007, houve evolução de 25,1% na utilização de transporte coletivo - de 10,4 milhões de viagens diárias para 13,9 milhões de viagens/dia -, ante 12,3% de aumento nas viagens motorizadas individuais - 9,9 milhões de viagens/dia em 1997 ante 11,3 milhões viagens/dia em 2007. Já as viagens a pé passaram de 10,6 milhões/dia para 12,6 milhões/dia, diferença de 15,8%.

 

“Na região metropolitana, o custo elevado das passagens afasta algumas pessoas do transporte coletivo. A qualidade dos transportes também é agravante, o que pode explicar tantas viagens a pé. Mas, paralelamente, o aumento do uso da forma coletiva está atrelado ao trânsito caótico e enormes congestionamentos. As pessoas procuram se adequar aos problemas e não perder tempo e ter mais gastos”, explicou o professor Márcio Silveira, especialista em geografia dos transportes, da Unesp de Ourinhos.

 

Quando trabalhava no Pari, zona leste de São Paulo, o consultor em logística Geovani Gomes de Melo, de 38 anos, morador do bairro próximo da Penha, chegava ao serviço dirigindo seu Kadett prata 1996. Ao trocar de emprego, em 2006, viu sua necessidade de deslocamento aumentar - agora trabalha em Interlagos, zona sul, distante 30 km de casa. “Foi então que decidi voltar a usar o transporte público. Além de economizar, não me estresso no trânsito”, afirma Melo, que utiliza, num só dia, trem, metrô e ônibus - por dia, gasta cerca de quatro horas se deslocando.

 

“O investimento no setor de transporte coletivo passa a ser cada vez mais essencial para a Grande São Paulo. A pesquisa mostra isso e a tendência é que a diferença entre o uso do modo coletivo ante o individual fique mais acentuado”, diz o secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella.

 

Em sua tese de mestrado, Francisco Villa Ulhôa Botelho,da Universidade de Brasília, também aponta que a renda familiar e a duração das viagens são fatores que levam às viagens a pé na região metropolitana. “Mobilidade urbana é fator de decréscimo de qualidade de vida. Há a necessidade de restringir gastos.”

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Estudo do Ministério das Cidades denominado “Como anda São Paulo”, da série “Como andam as regiões metropolitanas”, também mostra que andar a pé é o modo de locomoção que mais cresce na região metropolitana da capital. Uma das razões apontadas é o custo dos transportes, individuais ou coletivos. A pesquisa mostra que as pessoas de todas as faixas de renda optaram pela caminhada como meio de transporte quando o trajeto é curto e com duração entre 15 e 20 minutos. Mesma conclusão obtida pela pesquisa OD, que mostra que 70% das viagens a pé duram cerca de 15 minutos.

 

Houve um aumento da população economicamente ativa, o que explica o crescimento do uso do transporte coletivo. Mas não chega a ser suficiente para fazer crescer o número de usuários de trens, metrô e ônibus. A OD mostra que o custo do transporte tem grande influência na sua utilização, já que o custeio das viagens por meio coletivo é feito majoritariamente pelo passageiro e pelo seu empregador. Chega a 46% o índice de passagens pagas pelos donos de empresas às quais o usuário trabalha. Já aqueles que arcam com o custo total do bilhete somam 44%, sem nenhum subsídio. Os usuário isentos somam 9%.

 

O aposentado Fernando Elias anda 20 minutos de sua casa até a estação da CPTM de Prefeito Saladino, em Santo André, toda vez que vai até São Paulo. Desde a década de 80, não há mais ônibus com destino à capital no bairro Santa Terezinha, onde ele mora. A solução é ir de trem ou esticar a caminhada mais 15 minutos e chegar à Avenida Dom Pedro II, onde há coletivos com destino a São Paulo. “Não tem outro jeito para ir até São Paulo”, diz Elias.

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