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Dilma e Lula tentam ‘salvar’ Haddad

Presidente e ex-presidente se encontraram com prefeito de São Paulo em busca de solução para crise política iniciada pelos protestos

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Por Redação
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff e seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, montaram uma "operação de salvamento" do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, alvo de nova onda de protestos, na noite de teraça-feira, 18. O prefeito encontrou-se ontem com Dilma e Lula, na Base Aérea de Congonhas, depois de uma reunião com representantes do Movimento Passe Livre, na qual se comprometeu a estudar a revisão da tarifa.

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A informação sobre a operação de resgate de Haddad foi divulgada com exclusividade ontem no fim da tarde pelo Broadcast Político - o primeiro serviço em tempo real do País na cobertura dos assuntos políticos, lançado oficialmente também ontem em Brasília.

Antes dessa conversa, Dilma tinha se reunido com Lula, com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, com o presidente do PT, Rui Falcão, e com o marqueteiro João Santana, em um hotel da capital paulista. O ex-presidente disse que o PT e suas administrações erraram ao se distanciar da juventude e agora pagam o preço do afastamento.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, deverá assumir a tarefa de interlocução com a juventude, e o governo estuda novos programas para beneficiar essa camada da população, que tem força eleitoral. Lula disse a Dilma e a Haddad que era preciso agir rápido para impedir mais desgaste aos governos do PT.

No diagnóstico do ex-presidente, a oposição começa a agir para "faturar" politicamente e, se o PT não abrir diálogo com a juventude, ninguém sabe como a onda de protestos terminará.

Diante dessa avaliação, Dilma acertou com João Santana, ainda na noite de segunda-feira, o tom do discurso lido ontem, durante a cerimônia de lançamento do Código de Mineração (mais informações nesta página).

Ajuste de discurso. No pronunciamento, elogiado por Lula, Dilma desviou do cerco político e se solidarizou com as manifestações pacíficas. "As vozes das ruas querem mais. O meu governo também quer mais", insistiu a presidente.

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O discurso foi feito sob medida para tentar aproximar Dilma da juventude e, mesmo sem citar diretamente o escândalo do mensalão, protagonizado por petistas, ela disse entender a mensagem das ruas, de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público.

No Palácio do Planalto, a avaliação é a de que o PT perdeu o controle não só da juventude, como também dos movimentos sociais.

Pesquisas qualitativas em poder de dirigentes do partido indicam agora que a insatisfação generalizada atinge tanto a imagem de Dilma, candidata à reeleição, como a de Haddad.

"É uma insatisfação contra o status quo", resumiu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. "Isso pode até mesmo nos ajudar a apressar as mudanças que queremos para o País." A estratégia do PT é a de se solidarizar com os manifestantes, na tentativa de neutralizar o movimento, que começou com protestos contra o aumento da tarifa de transporte coletivo e fugiu ao controle do monitoramento do Planalto.

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"Eu penso que temos de fazer uma autocrítica porque há um distanciamento do PT em relação à agenda da juventude no período pós-Lula", afirmou o deputado estadual Edinho Silva, presidente do PT paulista. "Existe um ideário em disputa no País e, se não tivermos a capacidade de dialogar, esse movimento poderá ser facilmente cooptado por setores mais conservadores."

Governadores. A presidente Dilma também telefonou ontem para os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), para falar sobre as manifestações ocorridas ontem nas capitais.

Na conversa com Alckmin, elogiou especificamente a ação da polícia, que, diferentemente da semana passada, não agiu com violência nem tentou conter a ação dos manifestantes na capital paulista. Também destacou o caráter pacífico da manifestação de segunda-feira.

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Setores do partido entendem que a estratégia da comunicação com foco no social e a bandeira da retirada de milhões de pessoas da miséria precisa ser modificada porque já não dá conta de englobar os anseios da população que agora começam a aparecer.

O encontro de Dilma e Lula ocorreu no Hotel Sheraton, um dos mais luxuosos da capital paulista, e durou três horas. Como de costume, nem a Presidência e nem o Instituto Lula divulgaram o local do encontro. Ontem, especificamente, temiam que a publicidade da reunião pudesse juntar manifestantes contrários a ambos. Após conversar com Dilma e Lula em Congonhas, Haddad aparentemente abandonou a disposição, que se mantinha firme desde a véspera, de não rever o aumento da tarifa de R$ 3,20.

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