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Dificultar Lei de Acesso à Informação é 'grave atentado a direito fundamental', diz Abraji

A gerente executiva da Associação, Marina Atoji, afirma que 'acesso a informações públicas tem que estar a serviço dos interesses da sociedade, não do governante'

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Por Redação
Atualização:

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) classifica como um "grave atentado ao direito fundamental de acesso a informações" a postura adotada pela Prefeitura de São Paulo de dificultar o acesso a dados da gestão pedidas por meio da Lei de Acesso à Informação.

O prefeito de São Paulo, João Doria Foto: Rafael Arbex/Estadão

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Gravação oficial de reunião da Comissão Municipal de Acesso à Informação (Cmai) obtida pelo Estado e revelada em reportagem publicada nesta quarta, mostrou o chefe de gabinete Lucas Tavares, número 2 da Secretaria Especial de Comunicação, atuando para dificultar o acesso de jornalistas a dados solicitados. Após publicação da matéria, Tavares  foi demitido por Doria na manhã desta quarta. 

+++  Ouça os áudios e leia a transcrição da reunião da Comissão de Acesso à Informação

Segundo a Gerente executiva da Associação e secretária executiva do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Marina Atoji, "o acesso a informações públicas tem que estar a serviço dos interesses da sociedade, não do governante."

Marina ressalta ainda que a Lei de Acesso "deixa claro, inclusive, que um agente público que analisa pedidos de informação usando de má-fé ou que retarda o fornecimento das informações de propósito deve ser punido."

No áudio revelado pelo Estado, Tavares afirma que, dentro do que for “formal e legal”, vai “botar pra dificultar” e que, se a resposta demorar a chegar, o jornalista vai “desistir da matéria”. 

A gravação também revela que o número 2 da Secretaria de Comunicação demonstrava saber quem são os autores dos pedidos analisados na reunião, o que Marina diz ser inconstitucional. "Negar ou dificultar acesso à informação pública em função da identidade de quem pediu é inconstitucional. Viola, de uma vez só, dois princípios da administração pública determinados pela Carta Magna: a impessoalidade e a publicidade. E, portanto, configura improbidade administrativa", diz.

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+++ Veja reportagens do 'Estado' feitas com base na lei

Em vigor no País desde 2012, a lei foi criada para garantir o acesso da população a informações de órgãos públicos. O pedido pode ser feito por qualquer cidadão, independentemente do motivo, e tem de ser respondido sempre que a informação existir. A solicitação deve ser analisada pelo órgão sem levar em consideração o autor, seguindo o princípio de impessoalidade na administração pública.

ABERT

Nesta quarta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) também repudiou a prática. Em nota, a entidade afirma que "a imprensa tem como missão apurar fatos de interesse público e é um direito garantido pela Constituição que todo e qualquer cidadão seja informado sobre assuntos relevantes do dia a dia da sociedade". 

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O texto diz ainda que "condena qualquer tentativa de impedir a imprensa de acessar informações de interesse da sociedade e considera grave que servidores públicos dificultem o trabalho de profissionais da comunicação".

Artigo 19

Para a  organização não-governamental de direitos humanos Artigo 19, "o caso demonstra um flagrante desrespeito aos princípios básicos da transparência que devem nortear a administração pública." Em texto publicado em seu site nesta quarta, a ONG afirma que "a restrição ao acesso a informações por jornalistas representa não apenas o desrespeito a uma lei ou ao trabalho de profissionais da imprensa; representa também a violação ao direito à informação de toda a sociedade, na medida que impossibilita que informações de interesse público venham à tona por meio de reportagens e debates suscitados por elas."

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