Enquanto alagamentos avançavam, crianças brincavam na Marginal do Tietê. Foto: Hélvio Romero/AE
SÃO PAULO - Nasci na avenida São João, antes mesmo de existir o minhocão e, apesar de adorar espiar pelas janelas dos prédios, nunca andei, aos domingos, no elevado Costa e Silva a pé. Pensei nisso hoje quando tive o privilégio de caminhar pela Marginal do Tietê. Não pelas calçadas tortas, quebradas e cheias de poças e lixo, mas na pista mesmo. E fiz questão de andar pela pista do meio. Afinal, não passava qualquer carro entre as pontes do Limão e Julio Mesquita Neto.
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Foi um dia inusitado. Para ir para a Agência Estado, fiz metade do caminho da minha casa, em Perdizes, até o trabalho de táxi. Mas quando percebi que havia algo errado, desci nas redondezas do Sesc Pompéia e vim a pé. O primeiro indício de que o dia não seria tão ruim assim foi que o taxista nem brigou por eu deixá-lo, sem lucros, no meio da ponte.
No trajeto, todas as pessoas que caminhavam sorriram para mim. Todos se cumprimentavam, davam bom dia entre risos.
Eu estava de salto - sim, depois de dois dias trabalhando de tênis fiz essa imprudência. Cavalheiros surgiram para me ajudar a pular uma poça enorme, usando um pneu de caminhão de ponte. Estavam com capas amarelas porque são trabalhadores nas obras das marginais. Todos trocavam informação em entre si: passe por aqui ou acolá para não encharcar o pé.
Minha sacola de papel onde carregava agenda e alguns livros se desfez com a chuva - sim, além de salto estava com uma sombrinha ínfima. Surgiram braços para ajudar-me a apanhar meus pertences. Quando cheguei ao serviço, a primeira atitude foi jogar o sapato fora. A mesma coisa fiz com o livro de uma colega. Kassab, você me deve essa! E novamente, na redação, todos sorriram e ajudaram-se até que os colegas chegassem.