Dia de calor frustra os encasacados em Campos

Paulistanos vão para a serra para curtir o frio e acabam encontrando um veranico de 23 graus

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Por Paulo Sampaio
Atualização:

O que mais poderia sair do armário no fim de semana da parada em defesa da diversidade sexual são os casacões da mulherada que circula no primeiro feriado do inverno de Campos do Jordão. Acontece que, às 10h de ontem, o termômetro da principal praça da cidade, a Benedito Calixto, marcava 23ºC. Temperatura assaz elevada para passear de vison. A "fono" Janaína Medeiros, de 32 anos, ainda insistiu em manter o colete de pele de coelho sintética, mas acabou reconhecendo: "É, não tem clima". "Acho que exagerei, né?", diz a advogada Carla Parazzo, de 44 anos, usando vestido de manga comprida, casaco de lã, boina idem e cachecol. O fluxo de turistas que superlotavam as calçadas da Rua Djalma Ferraz, onde os visitantes vão para ver e ser vistos, fazia jus aos 700 mil turistas que a cidade espera receber até o dia 31 de julho. Os casais pareciam especialmente apaixonados. O comerciante Bruno Lito, de 34 anos, por exemplo, carregava a bolsa da namorada, a psicóloga Alice Monge, de 30, enquanto a orquestra na praça mandava um Carinhoso, de Pixinguinha: "Campos é o cenário perfeito para viver um grande amor", derreteu-se Lito. A maior parte dos turistas chega de São Paulo e interior, Rio e Minas Gerais. Vem disposta a gastar. A expectativa é de que se movimente R$ 1 bilhão nesta temporada. No heliponto do Grande Hotel, que recebe público triple A (AAA), o pouso da aeronave custa R$ 300 - o hóspede paga R$ 150. "Ali, quem se hospeda na suíte, que pode custar R$ 4,5 mil a diária, tem direito a mordomo", diz a gerente Graziela Zanin. "Eles são como babás que providenciam tudo que os clientes querem, antes de eles pensarem em querer." Pelo asfalto acontece uma espécie de carreata de tigrões (playboys de meia idade) ao volante de Porsches, BMW, Mercedes. Eles passam devagarinho, dando pequenas mas viris aceleradas, o queixo apontado pra cima. Ao volante de um Audi branco, o empresário Paulo André (que não quis dizer o sobrenome) ouve em volume perceptível à rua toda a clássica Lady Love, de Low Raws. Tão frequentadas quanto as malharias e as lojas de chocolates, as concessionárias de carros importados, feitas para funcionar apenas na estação, estavam fervilhando. Em uma delas, o gerente Rodrigo Maluf, de 26 anos, disse que entram ali 15 mil pessoas por dia. O que leva alguém que sobe para um fim de semana de ar puro na montanha a entrar em uma concessionária de automóveis? "Vim só dar uma sapeada", disse, rindo muito, a arquiteta Georgia Martins, de 44 anos, acompanhada de duas amigas. Agora, desponta a limusine de Mauro Jorge de Souza, de 42: ele transporta ricos de primeira viagem pela cidade. Cobra R$ 600 e chega a fazer 20 tours em um fim de semana prolongado. "Levo muito executivo com a família. Eles gostam de ir de janela aberta, para dar tchauzinho pro povo lá fora", diz Mauro. Ele conta que seu cliente é da classe A, mas ultimamente tem levado também executivos da B e "até da C". Lá fora, os passantes dão tchauzinho e alguns riem (por que será?). Por baixo das peles de bichos variados, o que mais se usa é a de onça. "Mas é oncinha básica, não na meia, na calça, no lenço e no casaco, como essas peruas do Brooklyn", diz a estudante Gabriela Godoy, de 18 anos, sem explicar seu problema com o bairro da zona sul. Do outro lado da calçada, Janaína, a moça do primeiro parágrafo, reaparece dizendo que seu coelho sintético corre sérios riscos de voltar para o armário.

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