Desigualdade de renda deixa de cair

Rendimento médio dos 10% mais pobres ficou em R$ 215, alta de 6,4%, enquanto para 1% mais ricos, foi de R$ 18.889, avanço de 10,8%

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Por Vinicius Neder e RIO
Atualização:

O crescimento da renda do brasileiro continuou em 2012, mas a diferença entre pobres e ricos sofreu uma freada no movimento de queda verificado na década passada. Os indicadores da desigualdade de renda apresentaram melhora muito pequena ou estabilidade, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo IBGE.

Ainda assim, a alta de 5,8% no rendimento real do trabalho (que ficou em R$ 1.507,00 ao mês) ajudou a tirar 4,769 milhões de brasileiros da pobreza de 2011 para 2012, segundo estudo dos pesquisadores Samuel Franco e Andrezza Rosalém, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

O Índice de Gini, que mede a concentração de renda (quanto mais perto de 1, maior a concentração), ficou em 0,498 em 2012, ante 0,501 em 2011, quando considerado o rendimento do trabalho. A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, classificou a queda abaixo de 0,5 como "histórica".

No entanto, a queda de 0,003 ponto ficou abaixo do 0,017 de recuo no acumulado de 2010 e 2011 e foi igual à ocorrida em 2009, quando a economia brasileira sofreu retração de 0,3%, na esteira de crise internacional. Quando se leva em conta o rendimento médio real de todas as fontes, o Gini ficou estável em 0,507, de 2011 para 2012.

A desaceleração na queda da desigualdade está associada aos ritmos de aumento de renda nas duas pontas da pirâmide social. "Todas as rendas cresceram, mas as duas pontas cresceram mais. Tanto o primeiro décimo (os 10% mais pobres) quanto o último décimo (10% mais ricos)", disse Wasmália.

O rendimento médio real dos 10% mais pobres ficou em R$ 215,00, alta de 6,4%, enquanto para 1% mais ricos foi de R$ 18.889,00, avanço de 10,8%. Em 2011, a renda real do trabalho dos 1% mais ricos era 84 vezes superior à dos 10% mais pobres; em 2012, essa relação passou para 87 vezes, segundo o IBGE.

"O Gini é muito afetado pelos extremos", explicou Sonia Rocha, pesquisadora do Iets, para quem a queda na desigualdade de renda de 2004 a 2011 foi explicada pelo mercado de trabalho aquecido e pelos reajustes no salário mínimo. Agora, os salários do topo da pirâmide dispararam, talvez impulsionados pela falta de pessoal qualificado.

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Para João Sabóia, professor do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, a tendência é a distribuição de renda seguir caindo. "Com o salário mínimo subindo e o mercado de trabalho forte, a tendência vai continuar", disse.

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Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, a desaceleração na queda da desigualdade já começou a se dissipar. Cálculos do Ipea com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (também do IBGE, mas diferente da Pnad) mostram que, em julho de 2013, o Índice Gini do rendimento do trabalho estava em 0,547, ante 0,561, em março de 2012.

Embora os dados da PME e da Pnad não sejam comparáveis, a tendência é a primeira se confirmar na segunda, segundo Neri.

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