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‘Deram 30 dias para resolver, mas já foram 7 meses’

Família de funcionário do Colégio Sion morto em Higienópolis teme que os dois acusados pelo crime jamais sejam encontrados

Por Luciano Bottini Filho
Atualização:

Eduardo Paiva, funcionário do Colégio Nossa Senhora do Sion, que morreu com um tiro na cabeça no horário de saída da aula, tinha o sonho de morar em um lugar seguro. Ele, a mulher e os três filhos dividiam um barraco na favela de Vila Alegre, na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Mas foi na calçada da Avenida Higienópolis, na região central, que dois motoqueiros o mataram, em junho, e levaram R$ 3 mil que ele havia tirado do banco para usar na construção da laje de sua casa, que continua inacabada.

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Cinco suspeitos chegaram a ser detidos, mas foram todos liberados. A polícia e a imprensa divulgaram as imagens da câmera de segurança, mas não houve nenhum resultado além da comoção pública. Alunos do colégio em que Paiva trabalhava havia 8 anos prestaram homenagens, realizaram missas e deixaram desenhos na calçada onde o auxiliar de serviço gerais tombou depois de ser alvejado no rosto. Agora, a família sente que o caso está esquecido e que a dupla jamais será encontrada.

“Até hoje não conseguiram encontrar o rapaz que fez isso”, diz inconformado o irmão do funcionário, Alberto Paiva, autônomo de 44 anos que, quando pode, ainda ronda as delegacias da capital para pedir ajuda. Um dia, chegou a ir até o delegado-geral, Maurício Blazeck, para saber do caso. “Já fui até ao Palácio do Governo. Eles prometeram resolver a questão em 30 dias. Mas já se passaram sete meses.”

A família não se conforma com a longa espera pela prisão dos culpados. Como a maioria dos parentes de vítimas de latrocínios não esclarecidos, eles entraram em um processo de perda de fé na Justiça. “A gente não se conforma. Se pudesse, eu mesmo faria justiça”, diz o irmão.

A mulher do funcionário, que trabalha como assistente social, não conseguiu provar a união estável para começar a receber a pensão da Previdência. Nas últimas férias escolares, os três filhos foram com a mãe para Vitória da Conquista, na Bahia, onde o corpo de Paiva foi enterrado. Foi a primeira vez que eles visitaram o túmulo.

Desânimo. Um disparo na cabeça também tirou a vida do professor de História Manoel Vasquez, de 48 anos, em março do ano passado. O caso de latrocínio se transformou para a família em uma peregrinação a delegacias em uma busca em vão.

O crime aconteceu às 23h, quando ele acabava de sair da escola em que dava aula e estava a três quarteirões de casa, em um semáforo perto do Viaduto Aricanduva, na zona leste de São Paulo. Sua mulher e os dois filhos, um de 21 e outro de 17 anos, na época do crime, só sabem o que aconteceu pelo relato das testemunhas: três homens se aproximaram da caminhonete do professor e lhe deram um tiro, antes mesmo de roubá-lo.

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Sueli Pinho, também professora, era casada com Vasquez havia 23 anos. No começo, foi ansiosa atrás do inquérito em busca de informações. Mas, com o passar do tempo, viu que as idas à delegacia se mostravam inúteis. “Até três meses depois do assassinato, eu fui atrás, mas ninguém sabia onde o inquérito estava. Eu fui várias vezes à delegacia. Fui ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa. E assim ficou.”

“É uma coisa muito dolorida. Não acredito que isso vá se resolver mais. Acho que deveria ter sido resolvido na época. Depois de tanto tempo, vai ser praticamente impossível achar quem fez”, diz a mulher.

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