'Demora para esquecer esse tipo de situação', diz policial em ação na cracolândia

Policial Militar participa da Operação Centro Legal desde o início

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Por Redação
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Terça-feira (dia 10).

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O trabalho ficou mais difícil para a polícia porque o pessoal de organizações não governamentais (ONGs) e membros da Defensoria chegaram aqui. O pessoal começou a interferir nas abordagens. Foi o que ouvi dos outros colegas.

Quarta-feira (dia 11). Cheguei com o pelotão, no início da tarde, e, nas primeiras abordagens, já vi o pessoal da Defensoria Pública encostar. Antes mesmo da abordagem, já fomos alvo de perguntas e alguns comentários que pareciam tirar a nossa autoridade. Isso incomodou bastante.

Temos sentido que a população precisava dessa operação. Eles estão elogiando o nosso trabalho. Fatos isolados até deveriam ser questionados. Não tem como, em uma corporação de 100 mil homens, tudo dar certo. Não são todos que trabalham da forma correta. A gente fica chateado, mas não vamos desanimar.

Quinta-feira (dia 12). Estava de folga. Em casa, a minha mulher não perguntou nada nem as crianças. Procuro não comentar. Mas em uma loja em que vou fazer uma compra, no açougue, o pessoal faz perguntas. Faço algum comentário. Digo que estamos lá para acabar com a criminalidade, mas com o problema social e de saúde, não.

Há pessoas idosas, crianças usando droga. Em abordagens, já conheci poliglota, médico e advogado usando droga. Demora muito para esquecer esse tipo de situação. Garotas de programa de alto luxo, daquelas que cobravam R$ 500 por programa, agora fazendo uso do crack e debilitadas.

Sexta-feira (dia 13). Hoje, percebi que, em relação a quarta-feira, havia mais usuários. Eles tentam parar e se alojar nas calçadas. Mas, só de parar com a viatura perto, eles começaram a migrar. Não trataram mal. Nem precisava de atitude para que saíssem.

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Durante uma abordagem, chegou um casal. Não sei se eram jornalistas, ou de grupos de defesa dos direitos humanos. Eles perguntaram por que o policial estava fazendo a revista em um dependente químico. Disse para aguardarem o término da abordagem, porque o policial poderia ter visto alguma coisa errada. No mínimo, viu um cachimbo, algo assim. Se não viu, não teria problema para o rapaz. Ela já tinha pensado que a abordagem era por causa da cor dele, mas o rapaz era moreno claro.

Durante a operação, muitos desses usuários de crack sumiram definitivamente daqui. Alguns a gente já conhece durante o serviço do dia. Voltaram para casa ou conseguiram uma internação. Mesmo com a operação, a pessoa está em uma situação tão drástica em relação ao vício que insiste em comprar e usar. Não é fácil para a gente tentar cortar isso. Quando chega no crack, é porque está em uma situação debilitada, com o lado psicológico muito abatido. É difícil, chato. Hoje, vi uma moça que sei que usa crack há pelo menos nove anos. Está acabada, é terrível. Esperamos que os outros órgãos se empenhem da mesma forma que estamos empenhados em ajudar essas pessoas.

À noite, está supertranquilo por aqui. As pessoas andando normalmente, com estabelecimentos funcionando, sem problema.

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