03 de outubro de 2010 | 00h12
Cena 1: Pela primeira vez no Recife, os paulistanos Renata Andrade e Fábio Trindade se sentem inseguros, veem mendigos drogados, crianças cheirando cola, passam por ruas com forte odor de urina e lamentam a falta de informação no Recife Antigo, centro histórico da cidade.
Cena 2: A dona de restaurante Cleide Salgado lembra que nos tempos áureos da revitalização do bairro abria para almoço e jantar, de segunda a segunda. Hoje, com a queda do movimento, só atende no almoço, durante a semana. Por medo, nunca sai do bairro após as 17 horas e guarda um bastão para se defender em caso de assalto.
As duas cenas formam uma imagem "momentânea" do Recife Antigo, na opinião do arquiteto Leonardo Guimarães, presidente do Porto Digital, parque tecnológico que compreende 140 empresas de tecnologia da informação no bairro e responde pela preservação de prédios antigos. Para ele, a revitalização do bairro iniciada há pouco mais de dez anos está "em processo".
Guimarães compara o atual momento como "um passo atrás para se poder dar dois para a frente". E está otimista quanto a novos empreendimentos - culturais e empresariais - que estão chegando ao local.
Amelya Reinaldo, urbanista que coordenou a recuperação do centro no final dos anos 1990, baseou-se em experiências como a de Barcelona. O projeto - que incluía de varrição a segurança - deveria ser permanente, mas para ela faltou essa continuidade.
"Não há deterioração, o que acontece é que o ritmo está mais lento", retruca José Otávio Meira Lins, presidente do Convention Bureau e da Associação Brasileira de Hotéis. Ele destaca que uma eventual dificuldade não afetou o turismo. "Há o que se ver e fazer na cidade", defende, destacando que sua ocupação hoteleira é a melhor do Brasil, com média anual entre 85%. "Aguardem dez anos", pede.
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