Defesa mantém equipe no plenário

Primeiro advogado dos Nardonis e colegas auxiliam Podval e trocam bilhetinhos

PUBLICIDADE

Foto do author Marcelo Godoy
Por , Camilla Haddad e Marcelo Godoy
Atualização:

Um time de pelo menos seis advogados trabalha em "tempo real" na defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Além dos dois assistentes sentados ao seu lado na banca da defesa, o criminalista Roberto Podval conta com o auxílio de advogados e estagiários espalhados pela plateia. Um deles é o advogado Ricardo Martins, que atua no processo desde o dia do crime. Ele, Rogério Neri e Marco Polo Levorin encabeçavam a defesa do casal, mas deixaram o caso no ano passado, após divergências com Antonio Nardoni, pai de Alexandre. "Repito o que disse desde o início: não há prova que incrimine o casal", afirma Neri, confirmando seu retorno ao processo. "Estamos nos revezando para desempenhar a defesa em sua plenitude. A dinâmica do júri permite isso."A divisão de tarefas entre eles é bem definida. Da primeira fila da plateia, duas advogadas seguem atentamente o depoimento de cada uma das testemunhas, tendo em mãos uma espécie de roteiro. Ali estão perguntas e quadros com o que de mais importante a pessoa tem a dizer, na visão da defesa.Martins está sentado mais ao fundo. Sempre que ele ou uma das advogadas notam uma brecha para perguntas ou observações, um bilhete é imediatamente entregue aos assessores diretos de Podval. Tudo é lido e anotado, e acaba sendo usado quando a defesa tem a palavra.Essa engrenagem funcionou ativamente durante o depoimento de Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella. Por ter profundo conhecimento de cada detalhe do processo, Martins se levantou diversas vezes para levar bilhetes até Podval, sobretudo quando ouvia da testemunha referências ao relacionamento dela com Alexandre ou do casamento do réu.Jurados. Enquanto isso, nas cadeiras de couro posicionadas no canto esquerdo do plenário, os sete jurados fixam os olhos no casal Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni. Entre o júri, há uma mulher oriental. Ela aparenta ter 40 anos e desde o início das sessões tem permanecido imóvel, atenta às declarações. Ao lado dela, um rapaz bem mais jovem, com camiseta polo colada ao corpo, ouve os depoimentos sem esboçar reação. Outra jurada, uma mulher morena que parece estar na faixa dos 40 anos, acaba dividindo a atenção com as pessoas que assistem ao julgamento: jornalistas, parentes de Isabella Nardoni, colegas da defesa e da acusação e até a autora de novela Glória Perez, que perdeu a filha Daniela, assassinada, em 1993. "Vim prestar solidariedade à família da Isabella. Vim aqui como mãe que passou pela mesma coisa."Logo na bancada acima, um homem de aproximadamente 50 anos de idade veste camiseta branca e demonstra cansaço. Aperta as próprias mãos e levanta a sobrancelha. Poucos jurados trocam olhares entre eles. Bebem garrafas e mais garrafas de água e mantêm diante de si papéis e canetas.Todos os sete jurados têm dormido no Fórum de Santana. Eles estão dividindo dois quartos, onde se encontram beliches e camas de solteiro. Os réus seguem para penitenciárias da capital e as testemunhas são levadas para o alojamento do Fórum Criminal da Barra Funda. PARA ENTENDER1.Quais os pré-requisitos para ser um jurado?Qualquer cidadão com mais de 18 anos de idade e "notória idoneidade".2.Como é a preparação dos jurados? Os jurados não fazem nenhum treinamento ou curso.3.Como o júri toma conhecimento do caso? Após o sorteio dos jurados, o juiz faz a "instrução do processo", no qual apresenta um resumo do caso em julgamento.4.Os jurados têm de ficar incomunicáveis?Cabe ao juiz decidir sobre a incomunicabilidade. Sendo desnecessária, os jurados podem contatar seus familiares. 5.Um jurado pode ser substituído durante a sessão?Não. Se algo impedir a continuidade da audiência, o conselho de sentença é dissolvido. 6.A decisão do júri pode ser alterada?Não. O TJ pode anulá-la e marcar outro julgamento. NOS BASTIDORES DO TRIBUNALPreocupação da defesaO advogado do casal Nardoni, Roberto Podval, admitiu que a defesa terá grandes obstáculos. "A dificuldade é enorme e é difícil que isso mude", afirmou, ao chegar ao Fórum. RevoltaA avó materna de Isabella, Rosa Cunha de Oliveira, se indignou com o isolamento da filha. "Ela não vai mudar o resultado. Eles assassinaram a minha neta." EnterroPara Rosa, acompanhar o júri é uma forma de "enterrar o caso". "Durante dois anos, ela não conseguiu enterrar a filha dela. Ela ainda não conseguiu enterrar a Isabella." ProtestoAs manifestações por um desfecho do caso do assassinato da garota Isabella foram menores ontem. Apenas um grupo de oito pessoas esteve presente na frente do Fórum de Santana.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.