16 de dezembro de 2012 | 02h03
Não se fala em outra coisa nos últimos dias: pelo calendário maia, o mundo vai acabar na próxima sexta-feira, dia 21 de dezembro. A previsão fatalista já fez até instituições respeitadas, como a Nasa, agência espacial americana, e o Vaticano, se manifestarem. Enquanto isso, muitos brasileiros preferem encarar a data com bom humor - várias festas estão marcadas para o "dia do apocalipse".
Segundo Alberto Frederico Beuttenmuller, autor do livro 2012 - A Profecia Maia, tudo não passa de uma interpretação equivocada de um dos dois calendários maias - povo que habitou o México e a América Central da Antiguidade ao século 15. A civilização estabeleceu como início da contagem do tempo o ano de 3113 a.C. e o desenhou até 5,2 mil anos à frente. Dividiram tudo por cinco e convencionaram dizer que cada quinto era um mundo - justamente daqui a cinco dias se daria o fim do quinto mundo. "Como eles deram o nome de mundo, houve essa confusão. Mas é preciso entender a concepção de mundo de cada civilização", afirma Beuttenmuller.
Na seção criada em seu site para refutar a proximidade do apocalipse, a Nasa chegou a convocar uma conferência via internet no fim do mês passado. E, sob o tema Terra. Seu futuro. Nossa missão, publicou uma série de perguntas e respostas sobre o que chama de "tópicos de 2012" (veja alguns ao lado).
As medidas foram tomadas após começarem a chegar cartas com dúvidas sobre o assunto. Elas incluíam relatos de crianças com medo, que já não conseguiam dormir nem comer. Uma mensagem em especial alarmou a agência. Nela, um professor contava que pais de alunos estariam cogitando matar seus filhos - para que eles não tivessem de presenciar o fim da Terra.
Na terça-feira, foi a vez de o Vaticano se manifestar. O astrônomo e reverendo José Funes publicou um artigo no jornal Osservatore Romano chamado O Apocalipse que não virá (pelo menos, por enquanto). No texto, disse "não valer nem a pena discutir os fundamentos científicos dessas afirmações". Mesmo assim, segundo ele, os verdadeiros cristãos acreditam que "a morte nunca é a última palavra".
Irreverência. No Brasil, o bom humor parece dar o tom. Alto Paraíso, município no interior de Goiás conhecido por ser um destino místico, vai promover na noite de sexta-feira a festa Todo Mundo no Paraíso. "Vai ser de graça. Uma das atrações é (o cantor) Paulinho Moska", diz a secretária de Turismo, Fernanda Montes. "O cartaz é como se a cidade fosse uma arca de Noé, com várias tribos de pessoas dentro dela."
Com o "fim do mundo" e o apelo da cidade, a temporada turística começou mais cedo. "Normalmente, os visitantes vêm a partir do dia 26 (de dezembro). Neste ano, chegam no sábado (ontem). E, se a gente recebe 7 mil pessoas, agora esperamos 10 mil."
Em São Paulo, o fim do mundo virou até letra de música. "Vende-se um planeta usado, 7 bilhões de únicos donos, em médio estado, mas sem as calotas, com o teto cheio de buracos e o radiador enguiçado", diz a letra de Classificados, de Daniel Carezzato, Luciana Bugni e Marcos Mesquita - com participação de Tom Zé. Foi a primeira gravada pela banda ½ dúzia de 3 ou 4 para o projeto O Fim está Próspero - Trilha Sonora (Oficial) para o Fim do Mundo, iniciado em 2010.
De lá para cá, foram 12 músicas com videoclipe. O lançamento do disco está próximo: será na terça-feira. "É para dar tempo de curar a ressaca para o dia 21", brinca o músico Thiago Melo, um dos integrantes da banda.
Apostando no "novo mundo", no sábado, "primeiro dia pós-apocalipse", o publicitário Roberto Machado, de 33 anos, organiza em sua casa, na capital, A Balada do (Re)Começo do Mundo. "A banda de karaokê Cowbeatle vai atender aos pedidos de quem quiser cantar o fim de uma era e o início de outra", diz.
Empresas também entraram no "fim do mundo irreverente". A Suíte Novotel, do grupo Accor, lançou a ação 21/12/2012 - Revival. A partir de € 75, duas pessoas podem celebrar a noite de sexta-feira em uma das 29 unidades da rede pelo mundo. "A ideia do pacote foi um approach inovador e criativo", diz a gerente de Marketing para América Latina, Claudia de Barros Barbosa.
Para a astróloga Cristina Mallet, o dia 21 tem a ver mesmo com o início de uma nova era. "Tudo na natureza se estrutura em ciclos, como as estações do ano. Encerramos um ciclo e iniciamos outro, em que o mundo será mais humano."
Mensageiro. Danillo Matos (foto à esquerda), de 56 anos, diz acreditar no fim do mundo. Para precaver o maior número de pessoas, largou emprego em dezembro do ano passado para ficar debaixo de sol e chuva na frente do Masp, na Avenida Paulista, o ano "inteirinho, de quinta-feira a domingo". Com cartazes sobre diferentes profecias e distribuição de panfletos, explica para quem se aventura a ouvir: "Nós vamos virar seres de luz. Eu não tenho medo".
Matos não precisa temer. Estudo da Universidade de Boston, publicado em maio na revista Science, diz que o mais antigo calendário maia já achado não acaba em 13 fases, como o que originou a profecia, mas em 17. As pinturas estavam em um templo na antiga cidade de Xultún, na Guatemala.
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