
06 de junho de 2011 | 00h00
Em 1624, era ele administrador das minas de São Paulo, que desde 1645 teria casa da moeda. Manoel João fez fortuna não com as vacas da Mooca e do Tijucuçu, mas com o ouro que há tempos já se extraía do Jaraguá e de outras minas. Andou doente em 1641 e fez testamento, mas sobreviveu. Foi visitar o rei não só pelo natural ímpeto de bajulação daqueles tempos, mas talvez para reafirmar a lealdade de família, parente que era de Amador Bueno da Ribeira, em 1641 aclamado rei de São Paulo. Coroa que recusou, pois nem existia, refugiando-se no Mosteiro de São Bento. Na porta do mosteiro atual, uma placa registra a ocorrência. Os paulistanos queriam fazê-lo rei no berro, o que prudentemente recusou. O populacho só se dispersou quando os monges saíram ao terreiro de cruz alçada pedindo que se dispersasse.
Morgadio. Manoel João, que voltaria para morrer em São Paulo, foi à Bahia antes de embarcar para o reino e ali mandou fazer umas bolas e outros objetos de ouro, incluindo um pequeno cacho de bananas, para com eles regalar o monarca. Em Lisboa andava numa rede paulista, colorida, carregada por escravos mulatos, que levou daqui, feita de algodão e lã. Foi recebido pelo rei, cuja mão beijou, que o honrou com a aceitação dos presentes que levara. É o que nos conta o historiador Pedro Taques, em livro de 1795, que considerava Manoel João caduco. Disse-lhe o rei que pedisse o que quisesse.
O caduco, para não desfeitear a majestade, pediu apenas 11 léguas de terra em quadra (66 km) num lugarzinho remoto chamado Guaratinguetá, para estabelecer um morgadio em seu filho Francisco João Leme, um feudo com pretensões de nobreza. Mas o filho se casou com quem ele não queria e o morgadio não saiu do chão nem do ventre da nora.
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