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Curso de finanças e mudanças na dieta são estratégias contra excessos de fim de ano

Paulistanos contam como se programam para evitar arrependimentos em relação a comida, bebida e compras quando o ano-novo chegar

Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Comida, bebida, compras e festas estão na lista dos principais excessos que as pessoas costumam cometer no período de final de ano. Com as confraternizações e a chegada do verão, a época acaba dificultando a tarefa de manter o equilíbrio. Fazer cursos de finanças, comprar presentes mais baratos, buscar alimentos saudáveis e ajustar a agenda estão entre as estratégias adotadas por quem quer evitar arrependimentos após o período.

A empresária Cláudia Rodrigues, de 44 anos, está fazendo diferente neste ano. Fez um curso de finanças que durou dois meses e está mantendo uma rotina de exercícios. Também está estabelecendo prioridades. "Terminei o curso no começo de novembro. Busquei para não gastar com coisas supérfluas. Para os presentes, vou comprar só o essencial, algo que agrade e não tenha um valor alto. Em confraternizações, já coloquei o pé na jaca. Depois, vem o arrependimento, porque não sobra dinheiro e a gente ganha peso."

Cortar os gastos é o foco de Camila Padovani Foto: Werther Santana/Estadão

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Cláudia faz atividades físicas todos os dias e já tem um planejamento para o período em que a academia estiver fechada por causa das festas. "Estou me preparando para fazer atividades ao ar livre e vou continuar com a minha dieta. Estou trabalhando para substituir algumas comidas por coisas mais saudáveis. Também não pode chegar na festa com fome." As confraternizações terão limites. "Estou mais firme e colocando limites. Priorizo os eventos que preciso estar presente. Tenho um horário certo para ir embora e falo que preciso do descanso."

Uma pesquisa feita com 1 mil pessoas pela plataforma Sem Excesso - de conscientização sobre consumo responsável de álcool - apontou que o consumo de alimentos que não são saudáveis lidera o ranking de excessos cometidos pelos brasileiros com 42% das respostas positivas. Depois, os entrevistados citaram compras por impulso (29%), trabalho (27%), atividades físicas (18%) e bebidas alcoólicas (12%). Os dados foram divulgados em outubro e os pesquisadores ouviram jovens de 18 a 24 anos.

Um dos coordenadores da pesquisa, o médico hebiatra Maurício de Souza Lima diz que a escolha de alimentos inadequados tem relação não só com o sabor, mas com as facilidades para compra, possível graças aos aplicativos de comida. Ele recomenda a busca pelo equilíbrio para quem não quer cometer excessos. "Diante de uma situação, as pessoas devem parar e pensar antes de fazer algo. Devem pensar se estão passando do ponto de equilíbrio. O melhor remédio para isso é conversar a respeito dessas coisas."

Mas, caso a situação esteja trazendo prejuízos, ajuda especializada deve ser procurada. "Se chegar a um ponto em que o excesso está atrapalhando e a pessoa não está conseguindo resolver, deve ser encarada como um problema e a ajuda profissional é bem-vinda. Não precisa ter vergonha, porque tem profissionais preparados para isso."

O analista de mídias sociais Marcus Vinícius Paulino de Lima, de 23 anos, diz que não costuma se privar nesta época do ano e que janeiro costuma ser o mês para retomar academia e a dieta. "Querendo ou não, tudo acaba influenciando. Amigos e família chamando para sair e esse é um momento para socializar, é difícil recusar."

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Lima atribui os excessos à correria do dia a dia. "A maioria das pessoas tem dificuldade para organizar o tempo e a rotina: deixa para comprar os presentes de última hora, acaba comendo mal. São coisas que vão acontecendo em consequência da outra."

Gastos. Cortar os gastos é o foco da assistente financeira Camila Padovani, de 35 anos. "Gosto muito de comprar coisas para mim, mas acabo comprando demais. Vou comprar menos, porque tenho roupas boas que posso utilizar nas festas."

Camila diz que já aconteceu de pagar mais do que gostaria em um produto e se questionou depois. "Comprei uma bolsa por R$ 700 e, quando ela chegou, pensei: 'Por que gastei isso em uma bolsa?' Mas não devolvi. Só que agora, estou pensando em reduzir as compras, quero dar uma enxugada no meu armário." Com a economia, a assistente financeira pretende trocar de carro.

CEO da Keeper, empresa de finanças e tecnologia com foco em arrecadação de fundos para formatura, Caio Zenatti diz que o planejamento é fundamental para evitar gastos desnecessários. "Um erro clássico é ter o dinheiro na mão e gastar de qualquer forma. Saber quais são os seus objetivos é importante para definir como vai utilizar o dinheiro. Às vezes, uma viagem ou a compra de um imóvel parecem algo distante, porque as pessoas não conseguem entender que precisam de um período de economia."

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Para economizar, ele recomenda usar aplicativos para gerenciar os gastos e optar por presentes simples neste fim de ano. "As pessoas que gostam da gente podem receber um presente customizado. É possível criar algo que não seja caro, mas seja representativo."

Período de festas pode desencadear recaídas em dependentes de álcool

O dia 25 de dezembro é especial para a funcionária pública Maria, de 53 anos. Após 40 anos bebendo, foi o primeiro que ficou sem o álcool. Resolveu parar após uma confraternização. "O dia 24 de dezembro do ano passado foi o máximo do desprazer. Estava em uma festa com todo mundo falando coisas que não faziam sentido com o Natal. Não quis mais ficar me enganando. Comecei a beber com 13 anos e até dei uma diminuída, mas nunca parei."

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Mas nem sempre é assim com quem tem problemas com o álcool. O contato com bebidas alcoólicas nas festas de final de ano pode desencadear um consumo inadequado em quem é dependente. "Esse período é crítico, porque é quando costumam acontecer as recaídas de pessoas que estavam indo bem em tratamentos voltados para a abstinência. O mundo em que nós vivemos é alcoólico. Em todas as celebrações, o álcool vai fazer parte e as pessoas têm de administrar isso", diz Arthur Guerra, médico psiquiatra e presidente do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (Cisa).

O apoio das pessoas que estão ao redor é fundamental para evitar o consumo excessivo e as recaídas. "Algumas pessoas ficam incomodadas quando tem outra que não está bebendo. Mas é uma questão de bom senso, de ser generoso e de racionalidade não oferecer bebida. Não precisa ser médico nem psicólogo para entender isso."

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Guerra diz que, em sua clínica, as equipes costumam ficar em alerta no período de dezembro até por volta de 20 de janeiro, quando costumam ser acionadas. "A demanda é maior de pacientes e familiares. É uma época de perdão, visitas, abraços, encontros de pessoas que não se vêm há muito tempo. Existe um aumento considerável de procura e de preocupação nesse período do ano."

Gerente de unidade do Centro de Assistência Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) 2 Vila Madalena, Joel Coradete Junior recomenda que as pessoas com vício em álcool evitem situações de vulnerabilidade, como ir ao bar. Para quem vai às festas de confraternização, a orientação é não ingerir bebidas, mesmo em pequenas quantidades.

"Fazer uso é um gatilho para a recaída. Basta um primeiro gole para beber por dias e meses. É preciso respeitar quando a pessoa diz que não pode beber, porque não é só a bebida que traz alegria."

Maria já passou pelo teste de ir a um evento e não beber. Participante do Alcoólicos Anônimos (AA), ela diz que conseguiu superar a situação e se divertir. "Teve o casamento do meu sobrinho, que foi a primeira (festa). Pensei que ia ficar de mau humor e, no começo, fiquei mau humorada, achei nada a ver todo mundo bebendo. Depois, estava embriagada de alegria, não precisava mais de álcool. Antes, acabava exagerando e fazia coisas que não me deixavam feliz."

Evite os excessos

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Gastos

Faça um planejamento e evite fazer compras por impulso. Aplicativos e cursos com foco em finanças podem ajudar.

Bebidas

Mantenha-se hidratado quando estiver bebendo e não fique de estômago vazio. "E não dirija se beber", recomenda Joel Coradete Junior, gerente do Caps AD 2 Vila Madalena.

Ajuda

Caso os excessos estejam prejudicando a sua vida, busque ajuda de um especialista.

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