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Crise no Alto Tietê faz bairros voltarem a ter água do Cantareira

Com o fim da transferência, moradores de Cangaíba, Penha e Tatuapé, na zona leste, retornaram para a zona de abrangência 

Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - O agravamento da seca no Sistema Alto Tietê obrigou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a suspender o “socorro” prestado a regiões da capital que eram abastecidas pelo Cantareira antes da crise. O objetivo é evitar o colapso do segundo maior manancial paulista, que na quarta-feira, 21, caiu a 10% da capacidade. Com o fim da transferência de água, moradores de bairros como Cangaíba, Penha e Tatuapé, na zona leste, voltam para a zona de abrangência do Cantareira, ficando mais expostos a falhas no abastecimento, por causa da redução da pressão, que é mais drástica para quem depende do principal sistema.

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“A crise da falta de chuva não atinge só o Cantareira, mas também outros mananciais. Nós estamos reduzindo, praticamente zerando, a transferência do Alto Tietê para o Cantareira. Estamos aguardando a chegada da estação chuvosa, que deveria ter começado em outubro. O que está permitindo, de fato, uma maior redução (do Cantareira) é a nossa gestão de pressão, que antes era noturna e nós tivemos de avançar no período diurno”, afirma o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato. Segundo ele, “o aperto maior” ocorre na região atendida pelo Cantareira.

"Há três dias a medida de contingenciamento de consumo da Sabesp em nosso prédio tem tido início às 13 horas e a água tem retornado por volta das 7 horas do dia seguinte. Até então, esta redução se dava sempre por volta das 17 horas, o que já era ruim mas, ainda assim, permitia a normalização da caixa d’água”, reclamou ontem a administradora Priscila de Lucca Lutfi, de 40 anos, moradora de Pinheiros, atendida pelo Cantareira.

Nível baixo da Represa de Biritiba Mirim, localizada no distrito de Biritiba Ussu, emMogi das Cruzes, na Grande Sao Paulo, que faz parte do Sistema Alto Tietê Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Em 2014, o Alto Tietê chegou a suprir 1 milhão de pessoas que recebiam água do Cantareira. Por meio de um sistema de distribuição interligado, a Sabesp transferiu mais de 2 mil litros por segundo para atender a região que vai do Aricanduva até o Tatuapé, na zona leste da capital. A medida permitiu uma redução de retirada do Cantareira, mas acentuou a crise nas represas do Alto Tietê, que abastecem ainda hoje cerca de 3,5 milhões de pessoas. Em janeiro, quando a transferência foi iniciada, o manancial tinha 44% da capacidade, sem contar com o volume morto que está sendo utilizado atualmente.

Rodízio. Juntamente com o programa de bônus na conta para quem reduzir o consumo, a transferência de água do Alto Tietê e do Guarapiranga foram as duas alternativas lançadas pela Sabesp no início da crise para não adotar o racionamento oficial na região do Cantareira. Conforme o Estado revelou em agosto, o primeiro plano da companhia, apresentado em janeiro ao Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), chamava-se “Rodízio do Sistema Cantareira 2014”. Segundo o documento, “todas as estratégias” foram adotadas à época para “evitar” cortes, mas “o rodízio deve ser planejado em face da situação crítica de armazenamento”. O plano, contudo, foi vetado pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), que o classificou como “tecnicamente inadequado”.

O cálculo da Sabesp era que o Alto Tietê suportaria a estratégia até o início da temporada de chuvas, em outubro. Mas a seca agravou-se e o sistema está próximo do colapso. Com o recuo da transferência, o Cantareira voltou a atender cerca de 1 milhão de pessoas a mais, produzindo 40% menos água do que em fevereiro do ano passado.

Segundo Massato, a Sabesp pretende compensar a redução do Alto Tietê aumentando a transferência do Guarapiranga para o Cantareira. Hoje, a represa da capital atende cerca de 1,5 milhão de pessoas a mais. 

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 Foto: Arte Estado
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