
26 de outubro de 2014 | 02h07
Pergunto o que aconteceria se o veto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aos aditivos que dão sabor ao cigarro, que foi barrado na Justiça por ações da indústria tabagista, começasse a valer de fato e os cigarros com aromas sumissem de vez do mercado. Eles não têm certeza, provavelmente migrariam para outros cigarros, mas admitem que o gosto ia ficar pior. Um sorri para o outro com uma cumplicidade rara entre patrão e empregado!
A pressão sobre o cigarro aumentou nas últimas décadas e os fumantes enfrentam hoje mais obstáculos. O número deles diminuiu de forma importante no Brasil e no mundo ocidental. Mas algumas faixas da população parecem mais suscetíveis a experimentar cigarro e a se manter fumando. Os jovens e a população com menos acesso à informação são filões importantes, ainda explorados pela indústria do tabaco.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo, da semana passada, mostra que os fabricantes vêm investindo nas festas universitárias, patrocinando eventos e tentando burlar a norma da Anvisa que proíbe qualquer forma de propaganda de tabaco. Banners e material de divulgação das festas têm vindo associados a marcas de cigarro.
Na última semana, segundo a Reuters, o lucro operacional no terceiro trimestre de 2014 do negócio de cigarros no Brasil teve queda de 14,1% quando comparado ao mesmo período do ano anterior, tendo acumulado um recuo de 5,2% no ano.
Domingo no parque. Mais algumas batalhas vêm por aí. Londres pode proibir o fumo em locais públicos, como praças e parques. O estudo Melhor Saúde para Londres, feito pela Comissão de Saúde e divulgado pelo site da BBC há duas semanas, recomenda a medida, que poderia contribuir para uma diminuição do número de fumantes na cidade. São 1,2 milhão de pessoas que fumam na capital inglesa e quase 70 estudantes começam a usar cigarro todos os dias.
Segundo especialistas, ao se proibir o fumo em locais públicos, a exposição das crianças ao cigarro diminuiria. Várias cidades do mundo já adotam a medida, como Nova York e Barcelona.
No começo do ano, um artigo publicado aqui mostrava que, além do veto aos aditivos e a proibição de fumo em espaços públicos (fechados e, agora, abertos também), os maços genéricos (sem marcas, com grandes imagens de advertência), a proibição da exposição das embalagens nos pontos de venda e o aumento de impostos e do preço (além da proibição de maços com poucas unidades) são medidas defendidas pela área da saúde para impactar ainda mais a venda do produto.
Recado ao novo presidente(a). Há duas semanas aconteceu em Moscou a 6.ª Sessão da Conferência das Partes para a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, que está em vigor desde 2005, e tem a adesão de 180 países, incluindo o Brasil. As medidas têm conseguido diminuir o consumo de cigarro no mundo, principalmente na população mais jovem. Mesmo assim, segundo a Rádio ONU, ainda morrem mais de 6 milhões de pessoas todos os anos no mundo por causa do tabaco.
Independentemente de quem vença a eleição hoje, o compromisso com a saúde dos brasileiros segue em frente. Nesse sentido, as medidas que estão paradas na Justiça e outras que podem impactar ainda mais o consumo de cigarro entre os jovens precisam ser levadas adiante. Nunca é demais lembrar que 90% dos fumantes deram suas primeiras tragadas antes dos 15 anos. Que tal ampliar as ações que evitem esse contato precoce?
É PSIQUIATRA
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