Covid-19: SP registra menos de mil internados em UTI pela primeira vez

Número ficou em 982 pacientes no sábado passado, segundo dado divulgado pelo governo. ‘Milagre da vacinação’, diz especialista

PUBLICIDADE

Foto do author Leon Ferrari
Por Leon Ferrari
Atualização:

O Estado de São Paulo atingiu pela primeira vez na pandemia de covid-19 uma marca inferior a mil pacientes internados em leitos de terapia intensiva para tratamento de covid-19, segundo dados divulgados pelo governo paulista. Os registros, que tiveram um pico durante a segunda onda da pandemia no primeiro semestre deste ano, vêm em queda nos últimos meses, no que é visto como um efeito da cobertura oferecida pela vacinação contra a doença. 

No sábado, havia 982 pacientes em leitos de UTI e 1.168, em enfermaria destinados à doença. No dia seguinte, 5, esses valores eram de, respectivamente, 990 e 1.154. A média móvel, para sete dias, de pacientes internados em UTI, no sábado, foi de pouco mais de 1.036. No domingo, de 1.030.

Leitode isolamento noHospital Albert Einstein;São Paulo atingiu pela primeira vez na pandemia uma marca inferior a mil pacientes internados Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

PUBLICIDADE

Esses números, nos primeiros meses deste ano, com o segundo pico da pandemia, chegaram a ser quase quinze vezes maiores. Para se ter uma ideia, em quatro de abril, eram mais de 13 mil internações em UTI para covid e quase 17 mil, em enfermaria. Na data, a média móvel de internados era de 13.028. 

A taxa de ocupação de leitos de UTI, no sábado, foi de 21,61%. Em abril, era de 91,27%. Ao longo dos meses, porém, a disponibilidade de quartos variou e, conforme a média móvel foi caindo, a oferta também foi reduzida. Se em abril eram 14.250 UTIs disponíveis, agora, em dezembro, são pouco mais de 4.500. 

‘Milagre’ da vacinação

“A vacinação fez um milagre”, diz o sanitarista Gonzalo Vecina, sobre a queda da ocupação de leitos de UTI em SP. Ele atribui isso também ao fato de que houve relativo respeito a não realização de eventos de massa, sem a cobrança de comprovação de vacinação e o uso de máscaras.

Tendo em vista o cancelamento de grandes festas de réveillon, Vecina acredita que a tendência de redução de internações, casos e mortes deve continuar no Estado. Para isso, porém, destaca a necessidade, em nível estadual e nacional, de focar na vacinação, cobrar passaporte de vacina na entrada do País, manter medidas de prevenção e monitorar o comportamento da variante Ômicron.

Publicidade

“Agora lá (Hemisfério Norte) está frio. Há uma tendência de ‘voar’ em busca do calor”, fala o médico. “Se vir para cáum monte de negacionista, isso significa correr risco. Tem gente aqui no Brasil, sem proteção."

Nesse sentido, Vecina destaca a necessidade de cobrar o passaporte sanitário na entrada do País. Além disso, intensificar a imunização contra a covid de crianças e adolescentes, bem como acelerar a aplicação de doses de reforço.

Quanto à variante Ômicron, detectada pela primeira vez na África do Sul, o médico destaca que o comportamento dela continua uma “incógnita”. Vecina aponta que a cepa é provavelmente mais transmissível, porém, se preocupa mais com o fato de ela ser mais severa, o que pode levar a um repique da pandemia.

Localidades com baixa cobertura vacinal, segundo o sanitarista, correm o risco de “pequenos” surtos com a Delta. Coisa que, diz, já ocorre em algumas cidades do do Pará e do interior do Ceará.

‘Otimismo cauteloso’

O coordenador da Rede Análise Covid-19 Isaac Schrarstzhaupt olha para a queda de internações no Estado paulista com um “otimismo cauteloso”. Isso porque, aponta, esse é um dado de “colheita”, representa o que se passou - nesse caso, o sucesso da vacinação. O segredo para manter a conquista é “cautela e monitoramento”.

“Na Europa, lá por julho, junho, estava exatamente como São Paulo agora: Internações lá embaixo, óbitos lá embaixo, vacinação entre 65% e 70%. Tudo maravilhoso”, lembra Schrarstzhaupt. “O que rolou? Flexibilizações. E agora eles estão numa onda bem forte.”

Publicidade

A quarta onda na Europa está relacionada a um “excesso de confiança”, avalia ele. O avanço da imunização contra a covid no continente parecia mostrar que não se corria mais perigo, levando a flexibilizações durante o verão europeu. No entanto, ocorreu o que Schrarstzhaupt chama de “estagnação vacinal”. Em vez da taxa seguir crescendo, estacionou - a curva deixou de estar em ascensão e passou a crescer “para os lados”.

Nesse sentido, aponta que as nações passam a ter segurança quando o índice de imunizados represente mais de 85% da população total. "(Com isso) Podemos dizer que se tiver um surto, vai ter pouco agravamento”, indica. 

Schrarstzhaupt destaca que, no Brasil, se vive o início dessa estagnação. Ele diz isso com base no painel Vacinação contra Covid-19 no Brasil (apoiado pelo Estado de Minas Gerais), que mostra a curva de segundas doses no País se tornando diagonal. No Estado de São Paulo, a tendência começou na segunda metade de novembro.

Para o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, o Brasil vive o início da estagnação vacinal. EmSão Paulo, a tendência começou na segunda metade de novembro, aponta. Foto: Vacinação contra Covid-19 no Brasil/ODS Minas

Nesse sentido, o pesquisador destaca que além do incentivo à vacinação, os governantes devem levar a tendência de estagnação em conta quando pensarem em flexibilizações. “Quando há estagnação somada a flexibilizações percebemos que há tendência de uma nova onda”, alerta.  O cenário atual, avalia, é de manutenção de medidas de prevenção, como uso de máscaras e não realização de aglomerações. 

Ele também destaca que, desde setembro, parece haver uma subnotificação de casos leves da doença, devido à vacinação no País. “A testagem no Brasil é reativa, não proativa”, explica. Com sintomas brandos, infectados tendem a não buscar por testes, acredita. Essa subnotificação pode atrasar a detecção de uma “reversão de tendência” que aponte para um novo pico da crise.

Quanto à redução da disponibilidade de leitos, Schrarstzhaupt faz uma ressalva: É preciso que os Estados avaliem quão fácil será reativá-los em caso de necessidade, orienta. 

Tendência nacional

Publicidade

O boletim mais recente do Observatório da Covid-19 da Fiocruz destaca que “as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS (Sistema Único de Saúde) obtidas em 29 de novembro ratificam tendências de queda ou relativa estabilidade do indicador”. Em abril, o mapa de risco da entidade era quase exclusivamente vermelho (crítico). Hoje, é majoritariamente verde (baixo), com algumas unidades federativas em amarelo (médio). 

Em alerta intermediário de risco para ocupação de leitos de terapia intensiva estão Rondônia (73%), Pará (75%) e Distrito Federal (74%). No primeiro, a taxa cresce desde o fim de outubro; no segundo, há quatro semanas. O alerta no Distrito Federal se dá pela retirada e gerenciamento de UTIs disponíveis há meses. Em 29 de novembro, só 34 estavam disponíveis, conforme informou o boletim da Fiocruz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.