Covas planeja levar para bairros projeto de convivência do centro de SP

Programa Centro Aberto levará deques de madeira, internet gratuita, empréstimo de cadeiras de praia e atividades culturais e esportivas para bairros como Freguesia do Ó e Tucuruvi

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Por Priscila Mengue
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SÃO PAULO - Os “centrinhos” de distritos paulistanos são o foco da expansão do programa Centro Aberto. Criado pela Prefeitura de São Paulo em 2014, ele terá o número de espaços triplicado de cinco para 15 até o fim do ano que vem, chegando a locais como o Largo do Clipper, na Freguesia do Ó, e um espaço junto da estação Tucuruvi, ambos na zona norte.

Deque de madeira e cadeiras para convívio no Largo São Francisco, no centro Foto: Felipe Rau/Estadão

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O Centro Aberto realiza uma série de intervenções em áreas públicas, com deques de madeira, internet gratuita, empréstimo de cadeiras de praia e atividades culturais e esportivas, dentre outras. As mudanças incluem também a mobilidade urbana, como a implantação de novas faixas de pedestres e a restrição de áreas de estacionamento e tráfego de veículos.

Com ares de “praia urbana”, o programa hoje funciona nos largos São Bento, General Osório, Paiçandu e São Francisco, além da Rua Galvão Bueno, todos no centro. A proposta da gestão Bruno Covas (PSDB) é inaugurar cinco unidades entre dezembro deste ano e maio do ano que vem, e mais cinco até o fim de 2020. 

O primeiro lote abarca os seguintes espaços: Praça Costa Manso, na região do Glicério, e Praça Padre Bento, no Pari, ambos no centro expandido; Largo do Clipper, na Freguesia do Ó, e Avenida Doutor Antônio Maria Laet, junto à estação Tucuruvi, ambos na zona norte; e Largo 8 de Setembro, na Penha, zona leste.

Dentre os pontos em estudo pela gestão municipal, estão uma área junto ao Terminal Lapa, na zona oeste; a Praça Manoel Lopes, no Jardim Ângela, e o Largo Treze de Maio, em Santo Amaro, ambos na zona sul; além da Praça Fuhad Smaire, no Jaraguá, zona norte.

O programa propõe intervenções urbanas a fim de tornar áreas públicas mais “amigáveis” para os pedestres. “É uma forma de criar ambiência e atratividade, para as pessoas circularem mais e melhor”, explica o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre, que diz estar em discussão com subprefeituras para ampliar o projeto.

“São Paulo tem um centro histórico, onde começou a urbanização, e tem também uma série de outras centralidades. Várias regiões ou distritos têm os seus próprios centros”, comenta. “Alguns desses espaços são extremamente inadequados ou pouco adequados para a circulação de pedestres.”

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No caso do Largo do Clipper, por exemplo, um levantamento da Prefeitura aponta que a distribuição dos canteiros e de vagas de estacionamento atrapalha a circulação de pessoas, que ainda enfrentam dificuldade para atravessar a rua. Por isso, a intervenção vai mudar a distribuição das faixas de travessia do entorno e ampliá-las de cinco para sete, além de aumentar a área de circulação dentro do largo.

Largo do Clipper, na Freguesia do Ó, receberá o programa Centro Aberto Foto: JF Diorio/Estadão

Os endereços foram selecionados a partir de estudos de viabilidade, que priorizam áreas de maior densidade populacional, consideradas “zona de centralidade”, com 39 a 60% do entorno com comércio e serviços privados.

O Largo do Clipper, por exemplo, teve “típica praça de centralidade de bairro”, presença de base da Polícia Militar eser “apropriado pela população do entorno” (isto é, frequentado) como pontos positivos, enquanto os negativos foram: espaço pequeno, proximidade a uma avenida de tráfego intenso e poluição sonora. “Ele é extremamente árido, inadequado para a circulação de pedestres e a permanência de pedestres”, diz Chucre.

O Estado visitou o espaço há dez dias, quando quatro pessoas ocupavam os bancos, tanto moradores de bairros vizinhos que estavam na região para resolver pendências quanto trabalhadores no intervalo do expediente. “Aqui é de boa, a gente senta um tempo na hora do almoço”, comenta a atendente de loja Tatiana Sant’Anna, de 33 anos.

Praça Padre Bento, no Pari, região central de São Paulo. Foto: JF Diorio/Estadão

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Recursos. O custo estimado é de R$ 200 mil a R$ 500 mil para a implantação, com manutenção mensal de R$ 10 mil a R$ 15 mil mensais. “Esse tipo de equipamento é muito simples para a Prefeitura implementar e gera um efeito imediato no território”, comenta Chucre. 

“Qualquer tipo de requalificação urbana que você faça de maneira geral tende a melhorar a sensação do pedestre em vários sentidos, em segurança, em questão de ser um espaço amigável à permanência, com sombra, atividades, ele tende ser uma qualificação no território importante, mesmo que seja em um microterritório.”

A gestão municipal também está em busca de parceiros para cobrir o custeio dos espaços, o que inclui a manutenção do equipamento e a prestação dos serviços de empréstimo de cadeiras, peças de xadrez gigantes e afins - trabalho hoje é feito por organizações contratadas. A ideia também abarca a programação, como ocorre no Centro Aberto São Bento que recebe atividades do Sesc Florêncio de Abreu.

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Jogo de xadrez no Centro Aberto do Largo São Bento, do centro de SP. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Largos São Francisco e São Bento têm maior aprovação

A Prefeitura promoveu pesquisas de satisfação com frequentadores e comerciantes do entorno de unidades do Centro Aberto. Das cinco, o maior índice de aprovação foi nos Largos São Francisco e São Bento (96%), enquanto o menor índice se referia ao Largo do Paiçandu (71%). 

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O Estado visitou os cinco espaços do projeto Centro Aberto há dez dias. Dentre eles, o mais movimentado era o do Largo São Bento, próximo da Rua 25 de Março, de prédios de escritórios e comerciais e de atrações turísticas, como o Farol Santander e o Mosteiro de São Bento.

Por lá, dos cerca de 30 frequentadores, 17 se dividiam em dois grupos no entorno de tabuleiros de xadrez gigantes, emprestados pelo projeto. Enquanto duplas jogavam, os demais sentavam em volta para conversar, fazer comentários e “zoar”, como explica o barman Carlos Bauer, de 41 anos. “É lúdico.”

Morador da zona leste, Bauer pega ônibus e metrô quase todos os dias para encontrar os amigos que conheceu no espaço nos últimos quatro anos. Ele ajuda a organizar um torneio de xadrez por ali, que diz já ter tido seis edições, com 36 participantes, entre adultos e crianças, na última realização. Nas competições, os tabuleiros utilizados são de tamanho normal, com direito a árbitro, cronometragem e troféu. 

Centro Aberto do Largo São Bento é o mais movimentado Foto: Taba Benedicto/Estadão

“Quase todo mundo, eu conheci aqui. Alguns trouxe para cá. Tem sírio, boliviano, peruano, chileno, paulista, goiano, amigo que mora em Goiás, mas vem aqui quando está em São Paulo. É uma miscelânea de pessoas”, aponta. “Conheci todos os Centros Abertos, mas foi aqui que vingou.

Ainda no espaço do Largo São Bento, havia a presença de algumas pessoas em situação de rua e, também, trabalhadores e frequentadores do centro. “É um relaxamento antes de ir embora”, descreve a administradora Lilith Silva, que não revela a idade “desde o milênio passado” e estava na região para fazer compras.

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Perto dali, cerca de 20 pessoas aguardavam a apresentação de um grupo de samba no Centro Aberto do Largo do São Francisco, frequentado por público semelhante ao do São Bento Além dos dois citados, também costuma ter maior procura o espaço da Rua Galvão Bueno, próximo da Praça Liberdade, que tem uma estrutura mais simples: basicamente uma faixa exclusiva para pedestres e bancos de madeira, ocupados por turistas, trabalhadores da região e pessoas que foram fazer compras.

Prefeitura de São Paulo tem projeto para o Largo do Clipper, na Freguesia do Ó Foto: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano/Divulgação

Avaliação. As unidades com maiores problemas sociais, como apontam relatórios da Prefeitura que citam vandalismo e furtos, ficam nos Largos Paiçandu e General Osório, o último a três quadras da Cracolândia. O biólogo Fabio Olmos, de 53 anos, critica a unidade do Paiçandu. Morador da região há mais de 20 anos, reclama que o deque e a mesa de ping pong ficam sobre o gramado do largo. “Em cima de uma das poucas áreas verdes da região central. Só colaborou para degradar mais a região.”

Para ele, a unidade do Paiçandu foi distribuída de “maneira equivocada” e deveria ser deslocada para o outro lado do largo, próximo às Galerias do Rock e Olido, para receber mais atividades culturais e ficando mais visível. Além disso, o morador se queixa da concentração de pessoas em situação de rua e de sensação de insegurança. “Tem que ter um aparato de segurança.”

Praça no Pari também receberá programa Centro Aberto Foto: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano/PMSP

'Só uma bela praça não vai resolver’

O urbanista Celso Aparecido Sampaio elogia o programa, mas defende um “abrasileiramento” do Centro Aberto, que é inspirado em experiências e teve consultoria do dinamarquês Jan Gehl. Isso porque, diz ele, São Paulo ainda não tem uma infraestrutura e políticas públicas tão consolidadas quanto países ricos e, por isso, uma ampliação do projeto pode esbarrar nas carências de determinadas regiões. 

“O programa tem se consolidado no centro, que é uma região de mais infraestrutura. Ainda assim, a gente percebe a falta de atenção para outras políticas, como, por exemplo, uma política para moradores de rua, que vai fazendo com que esses centros abertos acabem se tornando um local de moradia para essas pessoas, já que não têm onde ficar”, exemplifica ele, que é professor da Mackenzie. “Senão, acaba tendo um caráter de ilusão. Uma bela praça não vai resolver.”

Renato Cymbalista, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), destaca a continuidade do programa após a troca de partido na Prefeitura. “O programa foi mantido, é sinal de solidez", comenta. “Existem lugares da cidade que já cumprem essa função, que tem fluxo de pessoas, potencialidade para receber intervenções. E, nesse sentido, acho legal continuar se chamando Centro Aberto."

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