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Corrida de longa distância

A Rua das Olimpíadas não poderia ter outro nome. Quem cruza ali é gente que só quer vencer na vida

Por Fabio Mazzitelli e do Jornal da Tarde
Atualização:

Uma personagem destoa no cenário criado por jovens engravatados e mulheres de tailleur que caminham rápido, a passos decididos e olhares frios. É uma garota jovem, 21 anos, pensativa, vacilante, com seu ‘curriculum vitae’ debaixo do braço. Mariana Reboredo está na calçada em frente ao shopping em que pretende trabalhar. Ela acende um cigarro e fuma lentamente, como à espera de um sinal para participar da roda-viva que observa.

 

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O trabalho almejado pela jovem está em alguma das lojas do Shopping Vila Olímpia, no encontro das ruas Gomes de Carvalho e Olimpíadas. A esquina não tem placa indicativa do cruzamento, um esquecimento da recente reurbanização do bairro. O único marco ali foi posto pelo shopping aberto no final de 2009: um cinzeiro cilíndrico de um metro de altura, acessório usado por Mariana enquanto sonhava com o primeiro emprego de carteira assinada. "Trabalho desde os 16 anos, mas nunca tive um emprego registrado. Quero garantir um futuro melhor", diz a jovem, casada há um ano e sem planos de filhos. "Meu sonho é fazer faculdade de administração."

 

Quem já está estabelecido no bairro também acaba sonhando por ali. São aspirações que se confundem com imagens simbólicas da metrópole que se orgulha de não parar de trabalhar. "Aqui vai ser uma segunda Avenida Paulista, tem tudo para isso", diz o subgerente de loja Aparecido Costa, 32 anos.

 

A esquina abriga o 50º shopping da cidade. São 187 lojas, cerca de 3 mil funcionários e um público flutuante que passa de mil no almoço, hora em que a maioria dos trabalhadores do entorno caminha firme rumo ao centro comercial. Para esses paulistanos, ali é o porto seguro. "Faltava um espaço de congregação", diz Leonardo, advogado de 39 anos. "Encontro com meu namorado aqui toda sexta. Antes, não tinha lugar", diz a analista de comércio exterior Melissa Ueda, de 29 anos.

 

Uma enquete rápida feita na esquina da Vila Olímpia mostra que, de dez entrevistados, só um manteria distância dos shopping centers. "Às vezes, vou só para acompanhar os colegas do trabalho", conta o designer Vitor Goersch, 26 anos. A derrota daquele único entrevistado que disse não ao shopping está na cultura de um povo que, se não quer entrar ali para comprar, um dia pode acabar entrando para trabalhar.

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