Conselho de Patrimônio analisa tombamento da Chácara das Jaboticabeiras, na Vila Mariana

Plano Diretor da cidade de São Paulo permite que sejam erguidas torres no local; grupo de moradores pediu tombamento da área

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Por Paulo Favero
Atualização:

SÃO PAULO – No coração da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, está a chamada Chácara das Jaboticabeiras, loteamento projetado em 1925 por Francisco Prestes Maia e Taufik Camasmie e que fica dentro de um quadrilátero delimitado pelas ruas Domingos de Morais, Joaquim Távora, Humberto 1º e pela Avenida Conselheiro Rodrigues Alves. Só que desde 2014, quando a região foi transformada em Zona Eixo de Estruturação e Transformação Urbana (ZEU) no novo Plano Diretor, existe a possibilidade de que sejam erguidas mais torres de apartamentos no local.

Ao fundo, construção de prédio que originou a tentativa de tombamento do complexo urbano. Conjunto de ruas no entorno constitui a Chácara das Jaboticabeiras Foto: Taba Benedicto/Estadão - 18/11/21

Em reação à mudança nas regras de construção no local, um grupo de moradores pediu o tombamento (preservação urbanística e arquitetônica) da área, sob o argumento de conservar as características especiais da Chácara. Já opositores da proposta dizem que é preciso seguir o zoneamento proposto pela legislação. 

Há meses, porém, o pedido sofre impasse dentro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) e até foi suspenso pelo Ministério Público Estadual (MPE). Agora, o pedido foi novamente pautado na reunião do Conpresp nesta segunda-feira, 22.

Rua localizada naChácara das Jaboticabeiras, local onde moradores tentam o tombamentopara frear a verticalização Foto: Taba Benedicto/Estadão - 18/11/21

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Os moradores que reivindicam o tombamento da área criaram um coletivo. Eliana Barcelos, da Associação de Moradores da Vila Mariana, diz que a Chácara das Jaboticabeiras tem importância cultural e ambiental para a cidade. Por estar numa “grota” com nascentes, os arruamentos que a constituíram, na década de 1920, levaram em conta essa declividade, tirando o melhor partido do terreno para instalar as ruas, praças e lotes, seguindo as curvas de níveis, acomodando organicamente a geografia, observando o córrego que nascia ali.

"O resultado é um espaço vivo cheio de surpresas a cada curva, com as várias tipologias das casas entremeadas pelos espaços abertos das praças. O boulevard da Vampré (calçadas com 5,5m de largura) permitiu um adensamento arbóreo singular, seguido pelas ruas do entorno e seus quintais, criando um microclima de parque, refletido por exemplo nas espécies comuns, e também raras de pássaros, que só se reproduzem em parques", conta.

Chácara das Jaboticabeiras, um loteamento projetado em 1925 por Francisco Prestes Maia e Taufik Camasmie Foto: Taba Benedicto/Estadão - 18/11/21

Outro ponto importante que ela ressalta é que os lagos do Parque Ibirapuera recebem as águas dos córregos que formam o rio Sapateiro e que nascem nas encostas do espigão da Domingos de Morais. "As nascentes do Guariba, que estão localizadas na Chácara das Jaboticabeiras, são algumas delas, mas temos várias na região, que necessitam proteção, explica.

A promotoria havia pedido ao Conpresp esclarecimentos, como estudos completos da volumetria das edificações de forma a demonstrar eventuais impactos urbanísticos e paisagísticos no local.  Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, "foi deliberado o retorno para a análise do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico) quanto ao impacto das diretrizes de ocupação da área".

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"Há uma combinação variada nesse pequeno território, grandes, médios e pequenos lotes, além de duas vilas. Assim, o mix social está desde sua origem. Seu traçado é especial, com característica de bairro-jardim e o desafio de ter sido urbanizada sobre uma grota e área de nascentes e córrego", diz Maria Albertina Jorge Carvalho, arquiteta responsável pelo pedido de tombamento. 

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