Comerciante espancado por policial presta depoimento nesta 5ª

Agressão foi filmada por câmeras de segurança da loja, nos Jardins; investigador estava de férias

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Por Alexandre Hisayasu
Atualização:
O investigador José Camilo Leonel, de 51 anos, foi flagrado em uma loja de tapetes nos Jardins, zona sul de São Paulo, espancando o proprietário Foto: Reprodução

SÃO PAULO - O comerciante Navid Rasolifard, de 47 anos, vai prestar depoimento na tarde desta quinta-feira, 18, na Corregedoria da Polícia Civil, sobre o espancamento que sofreu por parte do investigador José Camilo Leonel, de 51. As agressões foram gravadas pelas câmeras de segurança da loja da vítima, nos Jardins.

A advogada do comerciante, Maria José da Costa Ferreira, encaminhou uma representação contra o policial na Corregedoria e também no Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), do Poder Judiciário, para que ele seja investigado criminalmente.

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O motivo das agressões foi uma questão comercial. Em dezembro, a estudante Iolanda Delce dos Santos, de 29 anos, comprou um tapete persa na loja e deu cinco cheques de R$ 5 mil. No começo de janeiro, ela voltou alegando que devolveria o tapete, porque sua arquiteta não gostou, e pediu o dinheiro de volta. Rasolifard alegou que não poderia fazer isso, mas ofereceu um vale compras, que não foi aceito. Ela retornou à loja depois e deixou o tapete, mas não houve acordo.

No dia 21 de janeiro, depois de nova discussão, ela saiu dizendo que chamaria a polícia. Nas imagens, Iolanda aparece na calçada da loja falando ao celular. Leonel está na viatura parado um pouco distante, mas dá um sinal de luz e estaciona. Na sequência, o policial começa a discutir com o comerciante e exige que ele devolva o dinheiro de Iolanda. Leonel dá socos, chutes e aponta uma arma na cabeça da vítima, que não reage em nenhum momento.

Rasolifard é levado à força para fora e é espancado mais uma vez, por se recusar a entrar na viatura algemado. Leonel aciona o Grupo de Operações Especiais (GOE), grupo de elite da Polícia Civil, que logo chega na loja para dar apoio ao investigador. O comerciante é algemado e hostilizado por Leonel, que toma o fuzil de um colega do GOE e mostra para a vítima. O que chamou a atenção dos advogados do comerciante é que o policial estava de férias.

Antes de registrar o caso na Corregedoria, o investigador foi até a Delegacia de Crimes Contra o Consumidor, que não registra o caso. Na Corregedoria, o delegado Filipe Martins da Silva, a pedido de Leonel, registra o caso como desobediência e recusa de dados sobre a própria identidade. O investigador disse que passava pelo local e atendeu ao "apelo" de Iolanda. Disse também que foi obrigado a usar força física, porque o comerciante se recusou a acompanhá-lo até a delegacia e não quis mostrar o documento de identidade.

O delegado ouviu as declarações do comerciante, dos funcionários e clientes da loja que relataram as agressões, mas não tomou nenhuma providência contra Leonel. Ainda escreveu no boletim de ocorrência que é "imperioso consignar que a parte Navid não apresentava hematomas decorrentes da alegada "agressão".

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No domingo, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Corregedoria da Polícia Civil apuraria a conduta do investigador e também se eventuais crimes contra o consumidor foram praticados pelo comerciante. Mas, depois que as imagens do espancamento foram exibidas no Fantástico, da TV Globo, a pasta encaminhou outra nota e afirmou que vai investigar o policial pelas agressões, por abuso de autoridade e uso da viatura durante as férias. Disse ainda que as imagens demonstram “claramente a atitude criminosa do investigador”. Ainda de acordo com a pasta, também será instaurado inquérito contra Iolanda por incitação a crime.

Procurada, Iolanda disse que não vai se pronunciar sobre o caso.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou nesta quarta que "foram incluídos no registro do BO os depoimentos do comerciante e do investigador, que eram conflitantes, para que as providências posteriores fossem adotadas". 

Disse ainda que foi solicitado exame de corpo de delito para o proprietário da loja de tapetes e que a estudante e o policial continuam alegando que não se conheciam. "As imagens que mostram o interior da loja estão sendo analisadas", disse ainda a nota da SSP. 

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