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Com recorde de mortes e alta em internações, Ribeirão Preto decreta lockdown

Município registra 20 óbitos e 393 casos nesta terça-feira; ocupação de leitos de UTI para covid-19 passa de 90%

Por Everton Sylvestre
Atualização:

RIBEIRÃO PRETO - A cidade de Ribeirão Preto, no nordeste paulista, adota medidas de lockdown por cinco dias, a partir desta quarta-feira, 17. A determinação no município de 711 mil habitantes foi anunciada pelo prefeito Duarte Nogueira (PSDB) em transmissão pela internet nesta terça-feira, 16, quando a cidade atingiu o recorde de 20 mortes por covid-19 em 24 horas. Após o anúncio no fim da manhã de que até supermercados terão o atendimento presencial suspenso, os estabelecimentos ficaram lotados.

A ocupação de leitos de UTI covid em Ribeirão Preto no início da noite da terça-feira estava em 93%, com 10 leitos livres na rede pública e seis na rede privada. Ao todo, o município tem 228 pacientes em leitos de UTI covid. O número cresce desde 15 de fevereiro, quando eram 147 pacientes. Nesta terça-feira, foram confirmados mais 393 casos da doença. Desde o início da pandemia, 1.356 mortes por covid foram registradas na cidade, segundo a prefeitura.

O Palácio Rio Branco, sede da Prefeitura de Ribeirão Preto Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

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Entre as medidas mais restritivas que vão vigorar entre quarta-feira e domingo, a prefeitura de Ribeirão Preto suspendeu o transporte coletivo dentro do município. Supermercados, padarias, açougues, comércios de hortifruti, de gás, de água, de insumos médico-hospitalares e de higienização poderão atender por delivery, com até 30% dos funcionários. O atendimento bancário em caixas eletrônicos é permitido, com três metros de distância entre as pessoas. Os postos de combustíveis poderão atender entre 6h e 20h, devendo fechar no domingo.

O transporte em veículos particulares para fins essenciais está permitido. Se o veículo for parado pela fiscalização será necessário justificar o motivo da circulação. Os deslocamentos estão permitidos apenas para atendimento de saúde, adquirir medicamentos e para trabalhos considerados essenciais, que incluem as áreas de saúde, segurança pública e indústrias cuja interrupção geraria danos nas estruturas ou perda de insumos. Entrar ou sair da cidade também está permitido.

“Acabar com a circulação de ônibus é uma medida muito importante”, afirma Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Ele considera necessário apoiar a prefeitura diante de possíveis protestos contrários às novas medidas, no entanto, em comparação com medidas de outros países, descreve como equivocadas as adotadas no Brasil que buscam controlar a ocupação de leitos como se fosse uma forma de controlar a pandemia. “É uma política de enxugar gelo, que confunde a população. A recomendação da OMS é de que uma medida tenha algum efeito quando o número de infecções e de óbitos por dia cair mais de 50% durante três semanas”, diz. Ele defende que as medidas de lockdown devam durar, no mínimo, 15 dias.

Alves ressalta que, além da justificativa das autoridades de que os pacientes estão ficando mais tempo na UTI, há aumento real do número de pacientes em unidades de terapia intensiva.

Em seu trajeto durante a tarde, o fisioterapeuta Luan Malaman passou por vários estabelecimentos movimentados. “Encontrei uma padaria com menos fila e entrei, mas não tinha mais pão e disseram que não vão mais fabricar pão [nessa padaria] hoje. Tudo está lotado”, afirmou. Especialista em cardiorrespiratório e favorável ao aumento das restrições, Malaman conta que nesta terça-feira recebeu contato de três hospitais que buscam ampliar o número de funcionários, no entanto, ele já atua em duas unidades da rede privada e está sobrecarregado. Durante entrevista coletiva, o secretário de Saúde Sandro Scarpelini confirmou que o município tem dificuldade para encontrar novos profissionais e equipamentos para poder ampliar leitos.

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Alguns comerciantes contrários ao aumento nas restrições realizaram protesto na cidade durante a tarde. Em nota, a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (ACIRP) se manifestou contra protestos nas ruas neste momento e afirmou que as novas medidas restritivas, definidas pela prefeitura, exigem união de todos os segmentos da sociedade para voltar o quanto antes à normalidade. “A entidade defende o funcionamento do comércio, indústria e serviços, mas acima de tudo é a favor da vida e entende que, neste momento, não é possível pedir recuo das medidas, pois não podemos ser cúmplices das mortes que ocorrerão em caso de um colapso nos sistemas de saúde público e privado do município”, diz a nota. A entidade reforçou ainda a reivindicação por medidas ágeis de apoio econômico e por fiscalização rígida contra atividades clandestinas que promovem aglomerações. Na região metropolitana de Ribeirão Preto, que inclui 34 municípios, as cidades de Jaboticabal, Barrinha, Batatais e Altinópolis devem acompanhar as medidas mais restritivas. Em Sertãozinho, as medidas passam a vigorar na quinta-feira, 17. A prefeitura de Taquaritinga, onde, no início do ano, houve um registro da variante britânica do coronavírus, deve discutir o assunto nesta quarta-feira.

Em Jaboticabal, justificando o intuito de evitar aglomeração em mercados, o prefeito Emerson Camargo (Patriota) permitiu que os estabelecimentos estendessem o atendimento presencial nesta terça-feira até 22h. Segundo a prefeitura, após o óbito de um paciente que estava na UTI, 12 dos 13 leitos da rede pública estão ocupados e, na rede privada, há pacientes sendo transferidos para outras cidades. A determinação do Governo do Estado para todas as cidades é que não haja circulação entre 20h e 5h; os municípios podem aumentar as restrições, mas não reduzir.

O prefeito de Serrana, Léo Capitelli (MDB), anunciou que vai manter as medidas que já estavam previstas em decreto anterior. No município, que não vai entrar em lockdown, o Instituto Butantan começa nesta quarta-feira a aplicar a segunda dose da Coronavac na população, escolhida para um estudo pioneiro de vacinação em massa. A aplicação da primeira dose terminou no domingo, atingindo 97% da população maior de 18 anos.

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