Com 'bike anjos', adultos pedalam pela primeira vez

Pessoas até na faixa dos 60 anos vão atrás de professores para aprender a andar de bicicleta e compartilhar dicas de segurança

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Por CAIO DO VALLE
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O inevitável friozinho na barriga. O medo de levar um tombo. A satisfação de conseguir manter o equilíbrio. Eis um processo conhecido de toda criança que está aprendendo a andar de bicicleta. Mas, em São Paulo, isso vem sendo experimentado pela primeira vez por um grupo pouco convencional: pessoas que já passaram de seus 30, 40, 50 anos. E que ainda não desfrutavam dos prazeres de pedalar por aí. A procura pelo beabá do ciclismo entre os que não são tão novinhos tem aumentado na capital. Trata-se de um efeito colateral da recente "moda" das bikes. Que, por sua vez, veio na esteira da criação e expansão das ciclofaixas e ciclovias e da maior atenção do poder público em relação às magrelas, no endurecimento da fiscalização do trânsito.É o que interpreta o desenhista mecânico Wendel Advincula Trindade, de 28 anos. Uma vez por mês ele se transforma em um "bike anjo" e ensina alguém a andar de bicicleta ou dá conselhos de segurança. Ele orientou a aposentada Maria Elisa Aguiar Peccioli, de 64 anos, na primeira volta sobre duas rodas, cerca de dois meses atrás."Fazia tempo que eu tinha vontade de aprender, mas sempre ia adiando. Até amigas minhas começarem a andar na ciclofaixa com as filhas. Aí decidi que era a hora de correr atrás desse sonho", conta ela, que encontrou os "bike anjos" pela internet.O grupo se reúne no último domingo de cada mês na Praça Marechal Cordeiro de Farias, na confluência das Avenidas Paulista e Angélica, às 15h, para ensinar qualquer pessoa que apareça. Em geral, há 12 "professores".Grande parte dos pupilos tem mais do que 45 anos. "Estimo que 70% está acima dessa idade", diz Trindade. A maioria, explica ele, é de mulheres, menos acanhadas. E talvez até mais determinadas, como a psicóloga clínica Elizabeth Gatto, de 60 anos. No último dia 7, ela não se deixou abalar por uma garoa no meio da aula. "Quando tinha uns 8 anos, até andei um pouco de bicicleta no interior. Mas depois que mudei para São Paulo, parei completamente por mais de 40 anos." Ela pretende agora comprar uma magrela para passear pelas ruas de seu bairro, Perdizes, na zona oeste.

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