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Com arte e cor, projetos mudam cara da periferia

Além de envolver estudantes e moradores, centros culturais mantidos por ONGs e governos também ajudam a valorizar bairros distantes do centro

Por Edison Veiga
Atualização:

Equipamentos culturais bancados por ONGs, Prefeitura e governo estadual estão ultrapassando seus portões e deixando a paisagem da periferia menos cinza.Um exemplo são as Fábricas de Cultura. Até o fim do ano que vem, nove delas estarão instaladas nos bairros paulistanos com os piores Índices de Vulnerabilidade Juvenil, de acordo com a Fundação Seade. As de Vila Curuçá (desde março), Sapopemba (desde junho) e Itaim Paulista (desde setembro) já têm 1,2 mil a 1,4 mil alunos aprendendo música, teatro, artes plásticas, dança, circo e outras atividades em horário invertido ao da escola. No ano que vem, serão inauguradas as de Vila Nova Cachoeirinha, Jardim São Luís, Capão Redondo, Jaçanã, Brasilândia e Cidade Tiradentes. Com modernas instalações, as Fábricas também já interagem com seus arredores. Na feira cultural, alunos da instituição se apresentam em cortejo pelas ruas - fazem malabarismo, recitam poemas, cantam, dançam, tocam violino... No sarau, são os artistas da região que vão para dentro da Fábrica. "É quando entramos com o espaço e a comunidade entra com seus talentos", explica Luciana Oliveira, gerente de atividades culturais da unidade de Vila Curuçá, onde há dois meses estudantes de Artes Plásticas também levam mais cor às ruas. Após aprenderem a grafitar, eles conseguiram autorização de moradores para pintar os muros de suas casas. "Sempre gostei de desenhar. Um dia quero me tornar um grafiteiro famoso", sonha Jamir dos Santos Pereira, de 14 anos. "Decidi fazer as aulas porque queria 'pegar mais talento'", conta Matheus Florencio Ruiz, de 10. Fundada em 1994, a Casa do Zezinho tornou-se referência na formação de crianças e jovens da região do Capão Redondo. Com o passar do tempo, o trabalho da entidade não se limitou a capacitar os "zezinhos" - como são chamados frequentadores da ONG. Urbanisticamente, o entorno também melhorou.Caso da região do Campo do Astro, centro do Parque Santo Antônio, um dos bairros mais violentos de São Paulo. Há um ano, por meio de parceria com uma fábrica de tintas e com o designer pop Marcelo Rosenbaum, todos os moradores das casas que circundam o campinho puderam trocar a "cor de tijolo" das paredes sem reboco pelo colorido das tintas. De quebra, ainda ganharam uma biblioteca comunitária. Com as cores, as casas passaram a ter identidade, melhorando a autoestima dos moradores. "Como sou corintiano, escolhi o roxo no catálogo", conta o auxiliar de produção Eduardo Sousa Mateus, de 27 anos, ex-zezinho que vive no bairro desde os 8.Boom. A iniciativa causou um miniboom imobiliário no entorno do campinho. É difícil encontrar casa à venda por ali. "Morava lá para o meião da favela", diz o microempresário Rafael dos Santos Souza, de 33 anos, apontando em direção à antiga moradia. "Há 15 dias mudei para cá (sua casa dá de frente para o campo), porque melhorou muito com os projetos da Casa do Zezinho. Minhas três filhas adolescentes podem brincar na rua tranquilamente." Souza parece feliz na nova moradia. "Se me perguntassem alguns anos atrás, eu ia dizer que queria mudar. Agora, não. Meu bairro é aqui."Outro bom exemplo na esfera pública é o Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte. A inauguração do espaço, mantido pela Prefeitura, já representou uma mudança na paisagem da região. Até 2006, o prédio era uma carcaça de sacolão abandonada. Hoje oferece atividades artísticas, cursos e oficinas. E sedia o Núcleo Paulistano de Animação, coordenado pelo cineasta Céu D'Ellia, que já trabalhou no estúdio Dreamworks Animation, de Steven Spielberg.

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