Com alta de casos de feminicídio em SP, Doria anuncia campanha de conscientização

Dados do governo apontam que foram registrados 54 casos de assassinatos de mulheres por violência doméstica ou por discriminação de gênero entre janeiro e abril. O índice representa um aumento de 54,2% em relação ao mesmo período de 2018

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Por Felipe Resk
Atualização:
O governador de São Paulo, João Doria, em entrevista coletiva sobre feminicídio Foto: Governo do Estado de São Paulo

SÃO PAULO - Após registrar aumento de casos de feminicídio em São Paulo, a gestão João Doria (PSDB) anunciou nesta quinta-feira, 13, campanha publicitária de conscientização da população e de combate à violência contra mulheres no Estado. No evento realizado no Palácio dos Bandeirantes, na zona sul, o governador também afirmou que só deve voltar a expandir as Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) que funcionam 24 horas a partir do próximo ano, por falta de delegadas mulheres.

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Dados do governo de São Paulo apontam que foram registrados 54 casos de feminicídio (assassinatos de mulheres por violência doméstica ou por discriminação de gênero), entre janeiro e abril. O índice representa um aumento de54,2% em relação ao mesmo período de 2018, quando houve 35 notificações do crime no Estado.

Em resposta, o governo iniciou uma campanha publicitária para tentar frear as mortes. Na peça, com 30 segundos de duração, aparecem três casos reais de violência: uma vítima que teve a mão cortada pelo marido, outra mulher que teve o rosto desfigurado e finaliza com uma mulher que foi espancada e teve a casa incendiada pelo ex. "Feminicídio: repudie, denuncie", diz a peça.

Para Doria, o crescimento da violência contra as mulheres seria um problema do Brasil – e não só de São Paulo. "Nós, infelizmente, tivemos um aumento no País de feminicídios, não é um tema de São Paulo ou das grandes metrópoles, é um tema nacional. Muito triste constatar o crescimento das agressões e das ameaças contra mulheres, crimes que se consumam ferindo mulheres, mutilando mulheres e matando mulheres no Brasil."

Questionado por quais razões o Estado consegue reduzir os casos de homicídios em geral, embora haja aumento no restante do País, mas não de assassinatos de mulheres, Doria respondeu que São Paulo teria "a menor taxa de feminicídio do País". " Oito em cada dez casos de feminicídios nesses primeiros cinco meses de governo ocorreram dentro de casa. Ou seja, a violência doméstica, de longe, é a que mais vem crescendo e isto tem de mudar", afirmou. "Por isso a campanha. Por isso estamos agindo, porque, infelizmente, não é possível você colocar um policial na casa de cada cidadão."

Para o lançamento da campanha, Doria compôs a mesa só com mulheres – exceto por ele próprio. "A campanha ajuda a conscientizar e a denunciar, porque a denúncia promove investigação e a investigação, imediatamente diante a evidência de fatos, (promove) o aprisionamento do agressor", disse.

Presente no evento, a promotora Fabíola Sucasas, do Ministério Público de São Paulo (MPE-SP), afirmou que crime contra mulheres são subnotificados. "Os dados que aparecem no sistema do Judiciário não necessariamente retaratam o tamanho da violência contra a mulher", afirmou.

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"O feminicídio se encontra no cenário da última etapa de uma série de violência. Essas mulheres que sofrem atentados e assassinatos, antes passaram por um histórico de violência", disse Fabíola. "Essas mulheres, antes de morrer, o que mais ouvem é: 'Se você não for minha, não vai ser de mais ninguém. Eu vou te matar'. Então que esse dia não chegue nunca mais."

Faltam delegadas mulheres para expandir DDMS 24 horas, segundo Doria

Em cinco meses de governo, Doria lançou um "botão do pânico" para agilizar o atendimento policial a mulheres vítimas de violência e também aumentou de uma para dez o número de DDMs, as delegacias especializadas da mulher, que funcionam 24 horas por dia. Esse número, no entanto, representa apresenta7,5% do total de DDMs no Estado (são 133, ao todo) – ou seja, a maioria só abre de segunda à sexta, das 9h às 19 horas.

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"Nossa meta é 40 delegacias da mulher funcionando 24 horas por dia", disse Doria. Segundo o governador, expansão só deve ser retomada a partir do ano que vem, com a nomeação de novos policiais civis a partir de concurso público, por causa da falta de delegadas mulheres.

"É a única razão que nos impede de expandir na velocidade que gostariamos", afirmou o governador. "Não há hipótese de nós termos delegacia da mulher com delegados, escrivães e investigadores homens, exclusivamente. Nada impede que tenha (homem) na equipe mas a delegada tem de ser mulher, dada a fragilidade da circunstância", disse. "Uma mulher, ameaçada ou agredida, não se sentira bem, evidentemente, relatando isso a um homem, por mais isenção, prática ou experiência que o policial tenha."

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