SOROCABA - Um dia depois de ter recebido a notícia de que seu filho S., de 34 anos, cumprindo pena de oito anos por tráfico de drogas, tinha conseguido evoluir para o regime semiaberto, a vida da aposentada M.A.P., de 61 anos, voltou a "virar do avesso", como ela disse. Seu genro, de 26 anos, também foi apanhado com drogas e está preso há seis meses no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Aparecidinha, em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde a família reside.
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"Parece que todo o drama que eu já passei está recomeçando. Eles têm três filhos pequenos, o mais novo, um bebê de apenas 4 dias. Com dois presos na família, fica complicado. O que eu posso fazer para ajudar essas crianças?", indaga, a mulher, que pediu para não ser identificada. "É constrangedor demais."
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O rapaz foi preso em junho por policiais militares com porções de cocaína e crack. Ele alegou que a droga era para consumo, mas não convenceu os policiais, segundo a aposentada. "Minha filha disse que ele não é usuário, então o que ele fazia com a droga?", indaga.
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O rapaz trabalhava como mecânico e, com a prisão, perdeu o emprego. A família, moradora da Vila Helena, zona norte da cidade, ficou sem renda. A mulher do detento entrou com pedido de auxílio-reclusão, mas não foi concedido porque ele ainda não foi julgado. "A casa é alugada e ela, com três crianças pequenas, não pode nem pensar em trabalhar. Vamos ter que ajudar eles com o que não temos."
A aposentada teme que a família enfrente de novo tudo o que ela passou com o filho. S. tornou-se usuário de drogas depois de perder o pai em um acidente de carro. Mãe também de três meninas, M demorou a perceber o que acontecia com o então garoto.
"Só dei por mim quando começaram a sumir coisas de casa. Ele vendia tudo para usar maconha e cocaína, até cair no crack. Acabou indo para a rua. S. foi detido tantas vezes 'que até perdi a conta', mas ficou na prisão três vezes." Na primeira, a acusação de tráfico acabou sendo desqualificada no julgamento e ele foi libertado logo.
Na segunda prisão, respondeu também por furto qualificado e cumpriu pena na Penitenciária de Guareí. "A vida da família virou um inferno. Vendemos tudo para pagar advogados e repor as coisas que e ele pegava. A situação ficou tão difícil que precisei alugar minha casa e me mudar para longe, pagando aluguel."
A aposentada conta que, quando o filho foi preso pela terceira vez, por tráfico e furto, ela sentiu alívio. "Ele não tinha mais jeito. Mesmo na prisão, continuava usando drogas. Quando saía, transformava a vida de todos os parentes num inferno. Deixei até de ir para as visitas. Agora, quando ele está perto de sair de novo, é outro da família que vai preso. Parece que vai começar tudo outra vez e não tenho mais idade e saúde para isso."