Colisão no trânsito termina com GCM detida na zona sul de SP

Guarda civil levava um revólver calibre 38 com o porte vencido e teria ameaçado motorista após batida

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Por Daniela do Canto e da Central de Notícias
Atualização:

Uma simples batida de trânsito sem feridos ou estragos nos veículos mobilizou guardas civis metropolitanos (GCMs), bombeiros, policiais civis e militares por cerca de 12 horas entre a tarde da quarta-feira, 15 e a madrugada de quinta-feira, 16, na região do Itaim Bibi, zona sul de São Paulo. Ao volante de um dos carros, estava a GCM Cláudia Tavares da Silva, de 29 anos, que dirigia sem carteira de habilitação. Ela portava um revólver calibre 38 em nome de uma colega de corporação, com o porte vencido desde o ano passado. Cláudia foi detida, levada ao 15º Distrito Policial (Itaim Bibi) e liberada após o registro do boletim de ocorrência.

 

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O acidente motivou um desentendimento entre Cláudia, que estava em um Fiat Palio verde, e o comerciante Luciano Pinho, de 47 anos, que dirigia o seu Chevrolet Corsa preto. Pinho afirmou que foi fechado por Cláudia, que teria mostrado a ele o seu revólver. Com medo, ele disse ter pedido apoio ao sargento Alexandre Flaviano, do Corpo de Bombeiros, que passava pelo local. O comerciante e o bombeiro garantem que a GCM se identificou como investigadora da Divisão de Investigações sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas (Divecar). À Polícia Civil, Cláudia negou as informações e alegou ter se identificado apenas como policial.

 

Segundo Pinho, a batida foi leve e aconteceu por volta das 15h50 da quarta-feira no acesso da Avenida dos Bandeirantes para a pista local da Marginal do Pinheiros, na zona sul. O comerciante estava acompanhado por um sócio. "No local, a pista afunila. Eu estava um pouco à frente, ela acelerou e os retrovisores dos dois carros encostaram", explicou. Pinho então disse ter sido fechado pela guarda, que passou a anotar os dados do seu carro. "Ela me mostrou a arma e eu fui embora, porque não sabia quem era ela", completou.

 

Na esquina das avenidas Brigadeiro Faria Lima com Cidade Jardim, Pinho afirmou ter sido fechado novamente por Cláudia, que se identificou como investigadora da Divecar. Ele então resolveu parar em um posto de gasolina, seguido por ela. "Pedi a identificação dela para ficar mais tranquilo, mas ela disse que só mostraria com a presença dos companheiros". Quando viu o sargento Flaviano passando pelo local, o comerciante correu até a viatura dos bombeiros e pediu apoio.

 

O sargento do Corpo de Bombeiros foi até o Palio de Cláudia. "Ela se identificou como investigadora da Divecar, mas quando peguei a funcional dela vi que ela era GCM", afirmou. Ao verificar o documento de porte da arma que estava com a guarda, Flaviano notou que ele estava no nome de Lilian Paschoal Bueno.

 

O bombeiro pediu apoio à PM por meio do telefone 190. Ele garante que, quando os policiais do 23º Batalhão chegaram ao local, a GCM tentou fugir. "Ela disse que não iria para o DP e acelerou o carro por duas vezes para me intimidar". Conforme o relato das vítimas, os PMs só conseguiram deter Cláudia depois de tirarem a chave do contato do Palio.

 

Segundo o secretário de comunicação do Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos da Cidade de São Paulo (Sindguardas), Maurício Vilela, será instaurado um procedimento administrativo para averiguar o caso.

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Registro da ocorrência

 

Durante a madrugada da quinta-feira, 16, quando ainda era feito o registro do boletim de ocorrência no 15ª DP, quatro viaturas do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, foram até a delegacia. Elas só saíram de lá após o término do registro. Enquanto a Polícia Civil elaborava o BO, a portas fechadas, os PMs aguardaram do lado de fora da delegacia. As vítimas afirmaram ter chegado ao 15º DP por volta das 16 horas, mas o registro terminou por volta das 3h50 desta quinta-feira, 16, 12 horas após o acidente. O comerciante chegou a ficar assustado com a chegada das viaturas do GOE. "Eu estou me sentindo ameaçado", confessou.

 

Ao deixar a delegacia, no final da madrugada, Cláudia não quis dar declarações à imprensa. À polícia, além de negar que tenha se identificado como investigadora, ela afirmou que Pinho havia se identificado como policial. Ele nega. Cláudia também disse ter permanecido dentro do carro, com o motor ligado durante a abordagem policial, por medo.

 

Na delegacia, a polícia descobriu que o porte da arma carregada pela GCM estava vencido desde o dia 7 de novembro do ano passado. A arma foi cedida por meio de um termo de doação de Lilian para Cláudia. A Polícia Civil apreendeu o revólver e o termo de doação.

 

No BO, Cláudia consta como averiguada. O comerciante e o bombeiro aparecem como vítimas. O caso foi registrado como porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, ameaça, injúria, desacato, simulação da qualidade de funcionário e acidente de trânsito (abalroamento). A delegada Cristiane Brandão de Castilho, plantonista do 15º DP, não deu declarações à imprensa.

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