Classificado para festival em NY, bailarino brasileiro de 12 anos luta para arrecadar dinheiro

Nascido na periferia de São Paulo, Wendel dos Santos superou o bullying na escola, venceu a competitividade de outros dançarinos e agora sonha em se apresentar para 'olheiros' de todo mundo

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Foto do author Gilberto Amendola
Por Gilberto Amendola
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Aos 8 anos, Wendel Vieira Teles dos Santos já causava espanto ao abrir espacate no meio da rua, em frente à casa da família, no conjunto habitacional Fazenda do Carmo, no extremo da zona leste. A habilidade era fruto do empenho nas aulas de street dance, que frequentou durante um período, na Fábrica de Cultura de Cidades Tiradentes.

Mas foi o pai, Edson Creuso Teles dos Santos, de 47 anos, que, percebendo a aptidão do filho, fez a seguinte sugestão: “E se você fizesse balé para melhorar ainda mais sua flexibilidade?”. A princípio, o garoto estranhou e respondeu com um “balé é coisa de menina”. A mãe, Marleide de Jesus Vieira, de 43 anos, acompanhou a reação do filho e também ponderou ser o balé “uma coisa não muito adequada”.

Vencedor de um concurso nacional, o bailarino WendelSantosganhou o direito de disputar em Nova York um importante concurso Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

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Não à toa, Wendel chora ao falar do pai. Foi ele quem insistiu e explicou para a família que o balé é para todo mundo, independentemente de gênero. “Eu devo muito ao meu pai, foi ele quem primeiro me levou às aulas e sempre me apoiou. Graças a ele eu estou aqui hoje”, contou Wendel.

O “aqui” de Wendel, agora com 12 anos, é o início de uma carreira profissional no balé, com apresentações no Teatro Municipal, prêmios em festivais como o de Joinville e a oportunidade de dançar no Youth America Grand Prix (YAGP), em Nova York, no próximo mês de abril – ocasião em que poderá se apresentar para “olheiros” das principais companhias de dança do mundo, como Bolshoi, Royal Ballet, American Ballet Theatre, Ballet da Ópera de Paris e outras.

A questão é que, apesar da classificação para o Grand Prix, a organização não se responsabiliza por nenhum gasto da viagem, que inclui passagens aéreas (para ele e a professora responsável, a ex-bailarina Priscilla Yokoi), estadia e alimentação. A estimativa é que todo o pacote custe aproximadamente R$ 27 mil.

Sem recursos, a família de Wendel está tentando arrecadar a quantia por meio de vaquinhas de internet, rifas entre familiares e venda de uma camiseta com a silhueta do filho. A camiseta é vendida por R$ 20 – e sempre entregue em mãos pelo próprio pai de Wendel. Até agora, a família arrecadou um pouco mais de R$ 300. Ou seja, o sonho da apresentação nos EUA ainda está muito distante.

Rotina.

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O amor pelo balé não deixa Wendel desanimar. Ele já superou o bullying na escola, dos colegas que no início o isolavam por ser um “menino dançarino”, já venceu a competitividade e a inveja de outros bailarinos – em uma ocasião teve seu figurino cortado por um colega. “Nada na nossa a vida é fácil. Se escolhi o balé, tenho de estar pronto para enfrentar tudo”, falou Wendel, com uma desenvoltura pouco usual para crianças de sua idade.

Todos os dias, Wendel enfrenta uma rotina que começa às 6 horas, quando acorda para ir à escola (está no 7º ano do ensino fundamental). Ao voltar para casa, almoça rápido (faz uma dieta balanceada e acompanhada pela irmã, Evelyn, que é estudante de Nutrição) e segue para os ensaios no bairro da Mooca. Quando está com sorte, tem carona do pai ou da própria professora de balé. Mas, na maioria dos dias, vai de transporte público (dois ônibus e um metrô). No caminho, ouve rap nos fones de ouvido. Atualmente, muito Racionais e Emicida.

Sem dinheiro para fazer a viagem, a famíliade Wendel promove uma vaquinha virtual evendecamisetas para arrecadar a quantia Foto: FOTO TABA BENEDICTO / ESTADAO

Apoiado pela ONG Social Bom Jesus, Wendel ensaia em uma sala no Mooca Hall. A professora Priscilla contou que, “além de todas as ferramentas de um bom bailarino”, o menino tem muito amor pela dança. “O amor é fundamental. A dança exige muito sacrifício, mas ele tem feito tudo com amor e dedicação”. Para ela, a importância de Wendel ir a Nova York é a oportunidade que ele terá de ver outros garotos, bailarinos de todo o mundo, iguais ou melhores do que ele, em ação. “O intercâmbio cultural será a coisa mais importante dessa viagem”, disse.

Apesar da participação em Nova York ainda depender de um dinheiro que ainda não existe, Wendel segue ensaiando, repetido movimentos complexos e perseguindo a delicadeza e a precisão. Como incentivo, o menino se inspira no bailarino e coreógrafo Carlos Acosta, do Royal Ballet. “Ele é cubano e negro. Tem uma história com algumas semelhanças com a minha”, falou o garoto.

Mesmo com algum incômodo causado por uma tendinite no joelho, o maior sacrifício do menino tem sido abdicar de coisas típicas da idade. “Tento dormir cedo e não ficar tanto tempo no celular. Evito jogar bola para não me machucar. E, apesar de gostar muito, tenho evitado McDonald’s e Burguer King”, falou. Claro, se conseguir se apresentar em Nova York, Wendel pensa em comemorar visitando um belo fast food. 

Para ajudar o Wendel e comprar sua camiseta, mande uma mensagem privada no Instragram dele, o @wendelvieirateles.

Ou pela vaquinha virtual:

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https://www.vakinha.com.br/vaquinha/wendel-em-nova-york

Morador da Cidade Tiradentes, Wendelviaja 18km, do seu bairro, atéo local dos ensaios, na Moocavezes por semana Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO
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