Cirurgia de Eloá termina após 4 horas; estado é gravíssimo

Bala alojada na nuca da jovem, que ficou 100 horas seqüestrada pelo ex-namorado, não pôde ser retirada

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Por Giuliana Vallone
Atualização:

A cirurgia a qual a garota Eloá Cristina Rodrigues, de 15, foi submetida após ser baleada na cabeça e na virilha terminou por volta das 23 horas desta sexta-feira, após quase quatro horas. De acordo com as informações dos médicos, a bala na virilha foi retirada e não provocou problemas, mas o projétil que se alojou na cabeça da jovem não pôde ser retirado. A bala, que entrou pelo lado direito, está na nuca da garota. A neurocirurgiã Grace Mayre Lydia, que comandou o procedimento, afirmou que "ainda é cedo para falar de seqüelas". "As próximas 48 horas serão decisivas para analisarmos como ela vai reagir", disse.   Veja também: Governo assume erro por informações sobre saúde de Eloá Eloá, 'uma menina falante'; Lindembergue, 'um trabalhador' Especialistas condenam participação de Nayara na negociação Polícia invade, reféns são levadas e seqüestrador é preso 'O que deu errado foi o tiro que ele deu na menina', diz coronel Armas de policiais e seqüestrador são apreendidas para perícia Confira cronologia do seqüestro  Seqüestro em Santo André é o mais longo registrado em SP Pai de Nayara diz que foi ‘expulso’ pela PM de escola Jovem disse que ia matar ex-namorada se polícia invadir o local  Galeria de fotos do seqüestro      Eloá, que ficou seqüestrada durante mais de 100 horas pelo ex-namorado, Lindembergue Alves, de 22 anos, ficará agora na Unidade de Terapia Intensiva do Centro Hospitalar Municipal de Santo André, em observação. O estado de saúde dela ainda é gravíssimo. A médica ressaltou, porém, que a jovem permaneceu estável durante toda a cirurgia, sem paradas cardíacas ou outras complicações.   Nayara Vieira, a amiga de Eloá que chegou a ser libertada mas voltou ao apartamento com autorização da Polícia Militar para negociar com Alves, foi atingida na face mas não corre mais risco de morte. Ela também passou por uma cirurgia para a retirada do projétil e seu quadro de saúde é bom.   A bala entrou no rosto de Nayara pelo lado direito, próximo ao nariz, e percorreu o espaço acima dos dentes da garota, parando no canino esquerdo. O tiro comprometeu a base do nariz, e o osso foi reparado. De acordo com os médicos, Nayara não deve precisar de uma cirurgia plástica e vai ficar no hospital por até sete dias, para ser acompanha e evitar infecções. O procedimento durou duas horas e meia.   O próximo boletim médico sobre o estado de saúde das garotas será divulgado neste sábado, às 9 horas.   O resgate   Policiais do Gate invadiram o apartamento onde Alves, de 22 anos, mantinha Eloá, de 15, refém desde às 13h30 de segunda-feira. A invasão aconteceu às 18h08 desta sexta. Lindembergue foi preso e levado por um carro da Polícia Militar ao 6.º Distrito Policial, na Vila Marrey. Eloá, baleada na cabeça e na virilha, está em estado grave. Ainda não há informações sobre quem teria feito os disparos. Houve um forte barulho de explosão quando a polícia invadiu o apartamento.   Três disparos foram ouvidos no local. Às 18h17 Eloá foi levada do local por uma ambulância. Às 18h18, Nayara foi levada por um carro do SAMU. Os policiais do Gate invadiram o apartamento pela porta do apartamento e por uma janela.   O governo do Estado chegou a anunciar que Eloá tinha morrido, se desculpando depois pelo erro. A justificativa é que ela teria sido reanimada na sala de cirurgia - fato negado pelos médicos.   Negociações e críticas   Na manhã desta sexta, a polícia usou o irmão de Eloá para negociar o fim do seqüestro. Douglas, de 14 anos, foi o negociador para a libertação dos refén. As negociações estavam travadas desde a o fim da manhã de quinta, quando Nayara, amiga de Eloá que havia sido solta na noite de terça, voltou ao apartamento para convencer Lindembergue a soltar a amiga, mas acabou sendo feita refém de novo.   A volta de Nayara ao apartamento teria sido uma exigência do seqüestrador. E a polícia permitiu o retorno da adolescente. "Foi um erro grosseiríssimo", afirma o coronel da reserva José Vicente da Silva, diretor do Instituto Pró-Polícia e ex-secretário Nacional de Segurança Pública. "Colocar mais um inocente em risco é a última coisa que poderia ser feita."   Ele não foi o único a condenar a concessão feita pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar. "Não entendi como permitiram a volta de uma refém menor de idade ao ambiente de risco", diz o capitão da reserva Rodrigo Pimentel, ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM do Rio e co-autor do livro Elite da Tropa - que deu origem ao filme Tropa de Elite. "Foi uma decisão pouco responsável."   Policiais que já atuaram no Gate e hoje ocupam outros postos também criticaram a maneira como o processo vem sendo conduzido. "No processo de negociação é preciso haver alguns limites", defende um deles. "É inadmissível colocar a vida de alguém em risco. E, pior ainda, menor de idade." Como o comando da PM não autorizou que ninguém se manifestasse antes do fim do caso, eles pediram para não ter seus nomes revelados.    

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