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Cidades de SP ainda sonham com 3º aeroporto

Mesmo sem documentos ou com pareceres desfavoráveis, municípios não desistem

Por Nataly Costa e Artur Rodrigues
Atualização:

Se prevalecesse a vontade política de algumas cidades, São Paulo não teria o terceiro aeroporto. Teria o quarto, o quinto, o sexto. Municípios da Região Metropolitana - e até de um pouquinho mais longe - vivem hoje uma disputa pela obra mais debatida, pensada, repensada, rejeitada e novamente cogitada: a construção de um novo aeroporto no entorno da capital. Saturados, Congonhas e Cumbica já ultrapassaram há tempos sua capacidade operacional. O primeiro não tem para onde crescer, com o entorno totalmente urbanizado. Para o segundo, há vários planos de ampliação, sobretudo com a expectativa da administração privada. Mas o lobby pela construção de um terceiro aeroporto é grande e ganhou força com a criação do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, presidido pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD). Pelo menos cinco cidades já se candidataram - formal ou informalmente - para receber a obra. Todas se vendem como perfeitamente aptas a abrigar um aeroporto - ficam perto de importantes rodovias, têm terreno disponível e já sondaram ou foram sondadas por empresas interessadas em patrocinar o sonho paulista de mais um aeroporto. Mas nem sempre o sonho bate com a realidade. Caieiras, a 38 km da capital, já despontou como favorita na disputa - é perto, servida pelas Rodovias Anhanguera e Bandeirantes e pelo Rodoanel, tem um terreno de 9 milhões de m² que comportaria um aeroporto. Até que a Aeronáutica, responsável pelo espaço aéreo brasileiro, deu um banho de água fria na cidade com parecer desfavorável - um aeródromo ali sobrecarregaria o já pesado tráfego aéreo de São Paulo. Mas a cidade não desistiu. "Tem até pré-projeto. Existe área disponível, de um dono só, toda reflorestada, até o ambiente sofreria menos. Sem contar a logística de estar perto das rodovias e a menos de 40 minutos do centro de São Paulo", afirma o prefeito de Caieiras, Roberto Hamamoto (PSD). "O aeroporto seria a redenção dessa região: Caieiras, Franco da Rocha, Cajamar, Francisco Morato."Todos parecem ter pelo menos um pré-projeto pronto. Algumas já assinaram protocolo de intenções com empreiteiras sem ainda terem recebido sinal verde da Aeronáutica ou da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). É o caso de Ibiúna, a 72 km de São Paulo, onde já está tudo certo para construir um aeroporto para 100 mil passageiros. Nos anos 1970, o município foi cotado para receber um aeroporto internacional. Mas o projeto acabou feito em Guarulhos.A 20 km dali e a 70 km de São Paulo, São Roque é outra concorrente. A estância turística saiu na frente e é a única que conseguiu, de fato, autorização formal da Anac para construir um aeroporto, que seria executivo, nos moldes do Campo de Marte. Apesar de o terreno de 7 milhões de m² e os planos de fazer uma pista de 2,8 mil metros - a de Congonhas tem 1,9 mil - darem margem para uma obra maior. A construtora JHSF deve tocar a empreitada. "Nossa economia é 50% turismo. O aeroporto seria muito importante para nós. Eles (a JHSF) têm um terreno muito grande e a viabilidade da Anac", afirma Leodir Francisco Ribeiro, da Prefeitura de São Roque.Mais para o sul da Grande São Paulo, quem historicamente pleiteia um aeroporto é São Bernardo do Campo, no ABC, que tem um terreno de 30 milhões de m² pronto para recebê-lo. O prefeito Luiz Marinho (PT) é o presidente da Comissão do Terceiro Aeroporto no Conselho de Desenvolvimento Metropolitano e já se reuniu com a presidente Dilma Rousseff (PT).Mogi das Cruzes é outra candidata. Mas o prefeito Marco Bertaiolli (PSD), relator da comissão do terceiro aeroporto, desconversa quando questionado sobre a rivalidade entre as cidades pleiteantes. Segundo ele, a decisão de qual município levará o prêmio é puramente técnica. "Vamos ouvir técnicos, engenheiros, pessoas da área e encaminhar até o fim do ano ao governo federal."Sem autorização. A Anac informou que não recebeu nenhum pedido de autorização para aeroporto em Mogi das Cruzes, Ibiúna, Caieiras e São Bernardo. Questionada sobre a viabilidade de aeroportos nessas cidades, a Aeronáutica não respondeu. Para um especialista em controle de tráfego aéreo que não quis se identificar, em qualquer uma dessas cidades a construção de um novo aeroporto interfere drasticamente no espaço aéreo paulista. "O grau de interferência nos outros aeroportos de São Paulo impõe uma limitação tão grande ao tráfego aéreo que não vale a pena. O novo aeroporto tem de ser mais distante."

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