
05 de maio de 2013 | 02h03
Na antiga Jaguaribara, disseram moradores, não se ouvia falar em drogas. Muitos acreditam que o problema esteja relacionado à falta de lazer e de pertencimento à cidade. "Notei muita depredação no patrimônio público", diz Matuziany Maia, que fez seu trabalho de conclusão no curso de Sociologia da Universidade de Fortaleza sobre a mudança da cidade. "Os jovens não sentem que a cidade é deles." Na única praça da antiga Jaguaribara, todos se reuniam para conversar, ouvir música, dançar e brincar, lembram os moradores. Na nova, as ruas ficam desertas.
"Eu não me conformo com essa mudança", afirma Natália Maia, de 27 anos. "Lá era aconchegante. As pessoas que trago de Fortaleza para conhecer Jaguaribara dizem todas a mesma coisa: parece um cemitério." Fisioterapeuta no hospital municipal, Natália tenta incentivar seus pacientes idosos a sair de casa e caminhar. "Eles dizem que têm medo", conta a fisioterapeuta.
Além de grande e um pouco escura, a nova Jaguaribara é vista como violenta pelos moradores. Eles atribuem o problema ao fato de haver "muita gente de fora" morando ou de passagem. A velha Jaguaribara não era passagem para nenhum lugar: quem estava lá havia ido para lá e todos percebiam quando havia alguém de fora. Agora, muita gente não se conhece.
"Aqui entra ano e sai ano e não estou satisfeito", diz Ubiramar Pereira, ajudante de pedreiro de 38 anos. "Lá eu pescava e caçava preá, avoante e tatu." O vereador Mathusalem Maia (PSL), de 61, diz que saía para pescar às 10h e às 11h30 estava de volta com peixe para o almoço. "Achei ruim sair de lá. Após viver muitos anos, você se apega ao lugar."
O fato de não poder voltar é o que mais atormenta os moradores. "Se não tivessem demolido a cidade, poderíamos ao menos mergulhar e vê-la", lamenta Natália. / L.S.
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