Chacina e crack revelam ápice da desordem nos anos 1990

Em 1998, 12 pessoas foram mortas em um bar em Francisco Morato

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Por Bruno Paes Manso
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No começo dos 1990, o crack - droga feita a partir da pasta de cocaína com bicarbonato de sódio e vendida em pequenas pedras que tornavam a dose barata - aumentou o giro das bocas e a quantidade das biqueiras nas periferias de São Paulo. Viciados em crack, chamados de noias, mergulharam de cabeça no consumo, fazendo de tudo por novas doses. Eles se tornaram um dos alvos preferenciais dos matadores. "Noia se mata com pedrada, não precisa nem gastar balas de tão tranqueira", dizia César Souza em 1999, matador do Grajaú.

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As chacinas - casos em que três ou mais vítimas são assassinadas - alcançaram 95 casos anuais em 2000. E eram o retrato da desordem generalizada. Na maior ocorrência do Estado, em 1998, 12 pessoas foram mortas em Francisco Morato. Os autores, PMs que também faziam segurança, buscavam uma menina que testemunharia contra eles na Justiça. Mataram os outros para evitar o risco de sobrarem mais testemunhas.

"É aquela coisa. Está de madrugada, bebendo com quem não presta, coisa boa não deve ser", explicava José Idelvan dos Santos sobre as três chacinas que praticou nos anos 1990.

Nesse contexto de extermínio, as periferias passaram a expurgar os consumidores para o centro de São Paulo. A cracolândia se tornaria uma zona neutra, um refúgio onde se podia traficar sob os olhos da polícia e consumir a droga sem o risco de ser assassinado.

Nas periferias, com revólveres e medo em excesso, conflitos banais podiam provocar escolhas homicidas. O aluno de uma escola em Diadema explicou o assassinato praticado por um amigo. Ele ia toda manhã levar a irmã à aula e um jovem o encarava do lado de fora da escola. No terceiro dia, atirou e matou o jovem sem questionar. "Está certo. Desacreditou, tem de morrer."

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