
07 de novembro de 2011 | 03h03
O castelinho da Rua Apa, na esquina com a Avenida São João, ganhou um projeto de restauro que vai manter a estrutura do simbólico prédio construído em 1912 pela família Reis - e que anos depois seria palco de um crime protagonizado pela mesma família. O projeto do arquiteto Paulo Bastos precisou de duas autorizações do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio de São Paulo (Conpresp), órgão pelo qual o imóvel é tombado: a primeira para reformar o castelinho em si e a segunda, recém-conquistada, para restaurar também a edícula ao lado.
Desde janeiro, a reforma do castelinho estava emperrada por causa dessa edícula, que não é protegida pelo patrimônio e está na "área de tombamento" do castelinho. O projeto previa transformá-la em um prédio baixo, de cinco andares, separado do famoso vizinho da Rua Apa por um jardim. O problema é que o Conpresp não permitia um prédio de cinco andares ali.
Depois de muitas reuniões e conversas, o conselho entendeu que a reforma da edícula valorizaria a arquitetura do peculiar imóvel ao lado e decidiu mudar o dispositivo de tombamento.
Agora, com o imbróglio patrimonial resolvido, falta o dinheiro. A ONG Clube de Mães do Brasil - cuja sede funciona na edícula - e o arquiteto Paulo Bastos estimam a necessidade de R$ 5 milhões para bancar o projeto, recurso que pretendem captar inscrevendo-o na Lei Rouanet. "Já há muitas entidades querendo ajudar, fazer sair do papel. Vamos conseguir", diz Bastos.
A ideia é que o castelinho seja um centro de qualificação e atendimento à população voltado para o público-alvo do trabalho da ONG, que ajuda moradores de rua e dependentes químicos.
Assim que a quantia for captada, Paulo Bastos estima que o restauro da fachada dure cerca de um ano. Depois, vem a parte mais complicada, que é o interior. "Estamos fazendo um levantamento histórico para saber como era a casa naquela época, o piso, as paredes. Parece mórbido, mas na pesquisa levantamos até fichas policiais do crime."
Mal-assombrado. O crime a que Paulo se refere é o que tornou o castelinho uma lenda na cidade: em 21 de maio de 1937, dentro do imóvel, Álvaro César Guimarães Reis matou a mãe, Maria Cândida, e o irmão, Armando, e depois se suicidou.
Sem herdeiros, o terreno passou a ser propriedade da União e ficou abandonado durante anos, servindo de abrigo para "noias" da região. Com a lenda, ganhou fama de casa mal-assombrada.
A reforma também deve se basear em fotos de arquivo de jornais - principalmente de colunas sociais, onde as festas do palacete da família Reis costumavam aparecer com frequência.
"A ideia é deixar o mais fiel possível ao que era, com eventuais intervenções se não acharmos o mesmo tipo de piso ou materiais usados na época", conta Bastos.
Um "alívio" durante a elaboração do projeto é que, mesmo deteriorado e hoje com o Minhocão como vizinho, o castelinho não precisou ser demolido.
"Teremos que eliminar intervenções precárias de sustentação, pilares tortos, esse tipo de coisa. Mas no geral o prédio ainda tem boa estabilidade, paredes resistentes. Mesmo a chuva, que entrava pela cúpula e deixou muita coisa enferrujada, não acabou com a construção."
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